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ELIANE CANTANHÊDE
A lei do mais forte
BRASÍLIA - Os 31 mortos na chacina da Casa de Custódia de Benfica, no
Rio, eram em geral negros, mulatos e
pobres. Pés-de-chinelo, não tinham
onde cair mortos. Muitos foram presos por pequenos crimes, como jogar
pedras em carros ou roubar tênis em
shopping, celular na rua, mochila de
turista. Alguns já tinham cumprido
pena, continuavam jogados ali ninguém sabe bem por quê.
Enquanto isso, no outro Brasil, o
ministro Marco Aurélio de Mello, do
Supremo, anuncia uma decisão "técnica", mandando soltar os acusados
do "propinoduto", escândalo que
surrupiou mais de US$ 30 milhões
dos brasileiros.
A lei (que manda soltar presos não
condenados em última instância depois de um certo prazo) não valeu para os pés-de-chinelo que acabaram
em cova rasa. Mas valeu para os que
capricharam no seu pé-de-meia à
custa do erário e que estão por aí, vivíssimos, numa boa.
O Congresso está para aprovar a reforma do Judiciário e introduzir algum tipo de controle externo sobre
um Poder que corre solto. Mas o contraste da Justiça não é isolado. Ao
contrário, é igualmente reflexo e causa da desigualdade crônica e sempre
chocante entre a elite e os trabalhadores e, principalmente, os miseráveis. Exemplos bem fresquinhos:
1) O Brasil passou a ter 5.000 novos
milionários (com US$ 1 milhão ou
mais) em 2003, primeiro ano do governo Lula, enquanto a renda média
do trabalhador caiu 14%.
2) O salário mínimo de R$ 260 foi
aprovado pelo Congresso na semana
passada e comemorado como "vitória" do governo Lula. Mas a redução
do número de vereadores está em banho-maria e o patrimônio dos deputados estaduais do Rio multiplicou-se
entre 1996 e 2001.
Segundo "O Globo", esse aumento
foi de mais de 100% para 27 dos deputados e, em alguns casos, chegou a
1.000%. Haja competência política,
empresarial e administrativa!
Quem pode pode. Quem não pode
que se dane. Na Justiça, na renda, na
vida e até na morte.
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