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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Velhos tempos

RIO DE JANEIRO - Nada tenho contra nenhuma reforma, seja qual for, desde a agrária até a de uma nota promissória. Ali nos inícios dos anos 60, como editor da primeira página de um jornal, cismava com o pessoal do copidesque que poluía o noticiário com as reformas então pretendidas.
O Brasil atravessava o governo de João Goulart, e "reforma" era a palavra de ordem. Não se colocava um prego na estrutura do país, não se asfaltava um metro de estrada, não se abria uma vaga no mercado de trabalho, uma sala de aula, um ambulatório.
O noticiário era consumido pelas reformas, pelas negociações entre os sindicatos e os representantes disso e daquilo; ficava difícil encaixar uma chamada que não tivesse no título uma reforma qualquer. Havia dias em que, por mais que espremesse o engenho e a pouca arte, não podia evitar três ou quatro chamadas com a palavra que parecia saltar do papel.
Deu no que deu. Tanto falaram em reformas que reformaram tudo. Os militares, muitos deles já reformados, tomaram o poder em 64 e ficaram 21 anos reformando as reformas pretendidas pelo governo reformista de Goulart.
Temos agora o governo Lula, que prometeu reformas e até agora só pensa nisso. Como nos anos de Goulart, a palavra salta de todas as páginas dos jornais, não há editor capaz de impedir a geração espontânea produzida pelas reformas políticas, sociais e econômicas.
Uma pesquisa nas edições dos anos 62, 63 e começo de 64 mostra que as reformas de hoje são as mesmas daquele tempo: previdenciária, tributária, partidária e, por mais incrível que seja, agrária, a mais velha de todas, a mais empurrada pela barriga dos governos que tivemos.
Se Jango ressuscitasse e lesse um jornal de hoje, diria para o Darcy Ribeiro: "Tá tudo como nos velhos tempos. Chame o Pellacani e o Talarico!".


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