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TENDÊNCIAS/DEBATES
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A crise do petróleo e os biocombustíveis
EDISON LOBÃO
É inaceitável que o Brasil tenha que defender sua política de biocombustíveis contra críticas acirradas e, por vezes, insanas
É PRECISO conter a escalada dos
preços do petróleo. Essa foi a
principal conclusão do fórum
que, mês passado, reuniu em Jeddah,
na Arábia Saudita, ministros de Energia, líderes e dirigentes das maiores
companhias petrolíferas do mundo.
Por designação do presidente Lula,
chefiei a delegação brasileira nesse
encontro de emergência, no qual o
Brasil foi reconhecido como player
importante no mercado mundial.
Nos dois choques do petróleo, em
1973 e 1979, o Brasil sofreu o impacto
da elevação dos preços, principalmente porque havia uma forte dependência, materializada na importação
de 80% do óleo bruto então consumido no país.
A partir do novo patamar de preços
e das necessidades de crescimento
econômico e desenvolvimento industrial, o país adotou duas grandes estratégias para contornar a crise: investimentos para aumento da produção doméstica de petróleo e implementação do Proálcool, o maior e
mais bem-sucedido programa de
substituição de combustíveis derivados de petróleo do mundo.
Hoje, a matriz energética brasileira
é a que conta com a maior participação de energias renováveis -um
exemplo de sustentabilidade.
Segundo a Opep (Organização dos
Países Exportadores de Petróleo), os
preços do petróleo podem alcançar,
em breve, US$ 200 o barril, e muitos
analistas acreditam que ele nunca
mais será inferior a US$ 100.
Quais as conseqüências desse novo
patamar? Para o Brasil, o grau de dependência é infinitamente inferior
àquele verificado nas décadas de 1970
e 1980, o que nos permite afirmar que,
com uma política energética adequada, poderemos enfrentar os desafios
do futuro.
Mas, se os preços atuais se mantiverem, haverá recessão em muitos países por causa do impacto dos preços
dos energéticos na economia, inclusive nos preços dos alimentos. Aumentará a necessidade de políticas de conservação de energia, de ampliação da
fronteira de prospecção e aproveitamento das reservas existentes e, principalmente, da busca por fontes renováveis de energia. Esta é a mais poderosa arma no combate à escalada de
preços das commodities agrícolas.
É impressionante e inaceitável que,
nesse contexto, o Brasil tenha que defender sua política de produção e uso
de biocombustíveis contra críticas
acirradas e, por vezes, insanas, que se
valem do conceito de sustentabilidade para esconder razões menos nobres. Sustentabilidade abrange aspectos sociais, econômicos e ambientais.
Quanto ao aspecto econômico, o
Brasil é reconhecido como o produtor
mais competitivo de biocombustíveis. O etanol da cana-de-açúcar compete com a gasolina em uma cadeia de
preços livres de subsídios.
Na área social, o cultivo da cana-de-açúcar e de oleaginosas na produção
de etanol e biodiesel contribui para a
geração de empregos sustentados no
campo. No caso do etanol, mais de 1
milhão de empregos diretos são gerados. No caso do biodiesel, mais de 100
mil famílias de pequenos agricultores
participam do processo produtivo.
A questão ambiental é muito importante. Os biocombustíveis são instrumentos valiosos na redução da
emissão de CO2 na atmosfera.
Se considerarmos o consumo dos
combustíveis por veículos leves entre
1970 e 2007, constatamos que, com a
utilização do álcool, tivemos uma
economia efetiva acumulada de 854
milhões de barris equivalentes de petróleo, o que representa 15 meses da
produção nacional de petróleo (1,9
milhão de barris/dia) ou, ainda, a cinco anos do consumo de combustíveis
em veículos leves no Brasil.
Se incluirmos nesse cálculo o volume de etanol que substituiu a gasolina exportada pelo Brasil no período,
considerando que a demanda energética foi suprida pelo etanol, teremos
economizado quase 1,25 bilhão de
barris equivalentes de petróleo.
Nesse período, a utilização do álcool como combustível, puro ou misturado à gasolina, evitou a emissão de
800 milhões de toneladas de CO2.
Na reunião de Jeddah, os líderes e
os ministros de 36 nações concordaram que a transparência e a regulação
dos mercados financeiros devem ser
aprimoradas para frear a especulação
financeira.
Resta agora reconhecer a importância dos biocombustíveis no processo de desenvolvimento de uma
nova matriz energética sustentável
para o mundo. Trata-se de fator estratégico que deve ser reconhecido
não como antagônico à indústria do
petróleo, mas como um elemento que
agrega valor ambiental aos combustíveis fósseis, tornando-os menos danosos ao planeta.
O Brasil está decidido a compartilhar sua expertise nesse campo e não
fugirá ao desafio que as mudanças climáticas impõem.
EDISON LOBÃO, 71, senador da República pelo PMDB-MA (licenciado ), é o ministro de Minas e Energia.
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