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CLÓVIS ROSSI
O besouro e o crédito
SÃO PAULO - Diz-se do besouro
que não pode voar, pela sua aerodinâmica. No entanto voa. Daria para
dizer a mesma coisa sobre o crédito
no Brasil: na teoria, o aumento dos
juros deveria derrubar a demanda
por crédito. Na prática, o crédito
voa -ou alcança um recorde após o
outro. Em julho, chegou ao nível
máximo desde que começaram a
ser coletados os dados pelo Banco
Central.
É mais fácil explicar por que a demanda por crédito continua subindo, apesar do aumento do custo do
dinheiro, do que explicar por que o
besouro voa: brasileiro não leva em
conta o nível dos juros, mas o valor
da prestação. Se cabe no bolso, pega
dinheiro, mesmo pagando mais.
É verdade que são as pessoas jurídicas que estão buscando mais crédito -e, em tese, elas, sim, levam
em conta a taxa de juros. De todo
modo, fica evidente que o aquecimento da economia tende a se manter, na medida em que o crédito é
um dos combustíveis mais importantes para o consumo.
Logo, é igualmente evidente que
se torna mais e mais ingrata a tarefa
do Banco Central de derrubar a demanda via aumento dos juros.
O que, por sua vez, significa que
soa bem provável a previsão da
grande maioria dos economistas de
que os juros continuarão subindo e
subindo. "Uma Selic [taxa de referência do BC] de 14,75% em dezembro é muito provável, assim como
sua manutenção por uns quatro a
seis meses, entrando em 2009", escreve, por exemplo, José Francisco
de Lima Gonçalves, professor da
Faculdade de Economia e Administração da USP e economista-chefe
do Banco Fator, para o número
mais recente do boletim da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, também da USP.
Vai acabar levando a inflação para o centro da meta em 2009. Mas,
acrescenta Lima Gonçalves, "o custo será a redução do crescimento do
PIB de 5% para 3,5%".
É um bom negócio?
crossi@uol.com.br
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