São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES O novo papel das ciências humanas
JACQUES MARCOVITCH
A FFLCH precisa encontrar meios de reforçar o seu poder transformador. Não se pode negar a relevância de estudos já desenvolvidos ali, mas é necessário buscar o renascimento lembrado também por Michel Serres. Na percepção deste filósofo, a morte das humanidades condenaria o homem ao tempo imediato. Ele sugere um humanismo universalizado, que tenha por base todas as culturas humanas, hoje acessíveis e em comunicação permanente. A formação das novas gerações muito se beneficiaria de um conhecimento comum e integrador das ciências e do mosaico de culturas existentes. Isso revelaria saberes e valores imprescindíveis na travessia dos tempos futuros. Filósofos, historiadores, sociólogos e outros especialistas que têm a academia como espaço quase único de trabalho podem e devem interpretar o mundo contemporâneo e reinventar o Estado, para um equacionamento mais generoso de políticas públicas. Se essa elite intelectual, vocacionada para o estudo de problemas sociais, não decifrar o chamado "enigma Brasil", quem o fará? A disjunção entre cultura, ciência e tecnologia traz prejuízos para os três setores. O mundo cambiante de hoje, com suas perdas e ganhos, exige um modelo educacional flexível, sem absolutismos. Requer complementaridades e uma educação plena, que oriente os jovens em seus projetos de vida e consolide valores de cidadania. Nenhuma área reúne habilidades mais eficazes para isso do que a área das ciências humanas. Cabe-lhe achar a ética do futuro e impor os limites necessários ao processo de globalização. Mas, nessa urgente redefinição de atitude, é indispensável um projeto que alargue e revigore o seu espaço no universo da pesquisa. Jacques Marcovitch, 55, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP e ex-reitor da universidade, é secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo e autor dos livros "A Universidade (Im) possível" (Editora Futura/Siciliano) e "Universidade Viva" (Mandarim). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Rudiger Dornbusch: Outro choque do petróleo? Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
|