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CLÓVIS ROSSI
A bala de canhão
SÃO PAULO - O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) discorda da
urgência em obter resultados na política de segurança, cobrada neste espaço dias atrás. "Não há bala de canhão capaz de resolver o problema
da segurança", argumenta o ministro. Admito que não, mas foi essa
mesma expressão que Thomaz Bastos utilizou, meses atrás, na primeira
vez em que critiquei o que me parece
falta de noção de emergência na
questão da segurança pública.
Continuamos, pois, com sensações
diferentes na matéria, mas o ministro
convenceu-me ao menos de uma coisa: o governo Lula está fazendo uma
vigorosa aposta no combate à lavagem de dinheiro como alavanca essencial da política de segurança.
A lógica, a rigor, é a mesma que os
Estados Unidos adotaram a partir do
11 de Setembro: não há terrorismo
sem fontes de financiamento. Descobertas e estancadas estas, o terrorismo ou fenece ou fica restrito a um
punhado de malucos incapazes de
causar maiores estragos.
Da mesma forma, o crime organizado precisa da lavagem de dinheiro
para repor em circulação, limpa, a
grana acumulada em atividades ilegais. Descoberta a lavagem, chega-se
aos verdadeiros chefões, e não aos
pés-de-chinelo do morro.
É claro que é muito mais fácil falar
do que fazer. Basta citar o fato de que
o empenho norte-americano em fazer secar a fonte financeira do terrorismo não impediu que os atentados
aumentassem em vez de diminuir.
Mas o caminho tem mesmo de ser
esse. Diz Thomaz Bastos que o presidente Lula está firmemente empenhado nesse programa, para o qual
não faltarão recursos.
Só vou acreditar na hora em que
um peixe gordo cair na rede. Aí, sim,
o efeito seria o da bala de canhão que
o ministro acha não existir.
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