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ELIANE CANTANHÊDE
Agora vai?
BRASÍLIA - Todo mundo anda seco por uma boa notícia. Ei-la: grandes
quadrilhas, sempre impunes, começam a fazer o caminho da cadeia.
Não só uma, e não só num lugar. A
onda caça-corruptos ganhou vida.
A Operação Anaconda ilumina a
terrível aliança entre policiais, juizes
e promotores para livrar a cara de
bandidos. Ilumina, por exemplo, as
sentenças da lavra Mazloum.
O ex-governador Neudo Campos
(RR) foi preso por suspeita de contratar "gafanhotos" e rachar os salários
com a sua turma. E policiais civis de
Guarulhos foram pegos com a boca
na botija e o contrabando em casa.
A segurança pública brasileira é a
tragédia que a gente bem conhece, e a
corrupção é esse mal que atravessa
décadas e instituições. Mas a sensação de que "agora vai" é sempre um
prazer que os céticos, eternamente céticos, não conseguem desfrutar.
Um dos efeitos da Anaconda e da
prisão do ex-governador tem justamente essa característica: a crença de
que é possível. Ela começa no Ministério da Justiça e chega à Polícia Federal, onde um sisudo e apolítico
Paulo Lacerda tem sido elogiado por
fazer o que tem de ser feito: investigar
e, se for o caso, prender.
Há na PF, dizem, grupos petistas,
tucanos e ligados ao senador e "xerife" Romeu Tuma. Mas, se a coisa funciona, isso não interessa. E parece estar funcionando, até contra a venda
de sentenças para absolver bandidos
muitas vezes presos pela própria PF.
Corporações como essa vivem, também, de motivação: bons salários, reconhecimento, resultados. Qual é o
sentido de um policial arriscar o pescoço e botar a mão em criminosos
que depois saem lépidos e fagueiros
pelas mãos de colegas e juizes corruptos? É de doer.
A PF foi criada em 64, com o regime
militar, como braço civil dos órgãos
militares de espionagem e repressão
política. Desde então, muita coisa
mudou. O Brasil e os militares mudaram, a própria PF parece estar mudando muito com o vento a favor da
transparência. Que tenha êxito. Ninguém quer perder a esperança de vez.
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