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MARCHA, SOLDADO
Pesquisador encontra 800 edificações de defesa no país
Enquanto algumas fortificações têm até lojas e restaurante, uma está submersa e outra abriga morcegos
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Não existe consenso sobre o
número de obras de arquitetura militar no Brasil. Acreditava-se até agora que o país teve em
torno de 300 fortificações, como consta de um clássico livro
editado pelo Exército em 1958,
"Fortificações do Brasil", de
Anibal Barreto.
Em pesquisa inédita, o historiador do Iphan Adler Homero
Fonseca de Castro encontrou
cerca de 800 obras defensivas
-baterias, redutos, fortins e
fortes- de tamanhos diversos.
Desse total, estão preservadas
pouco mais de cem.
O Exército encomendou a
Adler um novo livro sobre a história das fortificações no país
desde a colônia. O primeiro volume, tratando do tema em geral e em particular dos fortes do
Rio de Janeiro, tem publicação
prevista para setembro, durante a Semana da Pátria.
A Bahia é o Estado com mais
fortes tombados. Mesmo assim, falta
tombar, por exemplo, o forte de
São Diogo, em Salvador.
É lá que um forte -o da Gamboa-, apesar de tombado, foi
favelizado.
Em compensação, outro forte de Salvador, o de São Marcelo, foi reaberto depois de quase
40 anos. Hoje, tem espaço para
exposições, auditório, área de
eventos, restaurante e loja.
"Não queremos fazer roteiros turísticos, mas mostrar para a população que os bens
tombados são explicados pelos
acontecimentos históricos",
declarou Dalmo Viera Filho, diretor do Depam (Departamento do Patrimônio Material e
Fiscalização), do Iphan.
Para o instituto, o que importa é preservar o patrimônio -e
isso pode acontecer não necessariamente pelo seu uso turístico. Ainda existem unidades militares aquarteladas em fortes
-como as fortalezas da Conceição e de São João, no Rio de Janeiro. Até mesmo a Polícia Militar pode ocupar algum -como o forte de Óbidos, no Pará,
usado pela PM paraense.
Alguns têm a sorte de serem
queridos pela população, como
é o caso das ruínas de um raro
forte espanhol, o de Santa Tecla, localizado em Bagé (RS).
E esse também é certamente
o caso da fortaleza de São José,
em Macapá (AP), cuja planta
está até na bandeira do Estado.
De 1997 a 2004, ela passou por
obras de restauração. Em 2006,
foram finalizadas as obras do
parque criado no seu entorno.
No forte Príncipe da Beira,
em Costa Marques (RO), que
está sendo restaurado, uma das
principais dificuldades é lidar
com a enorme quantidade de
morcegos que invadiu o forte:
são contados aos milhares, de
quatro espécies diferentes.
Do forte de São Joaquim, em
Roraima, só restam ruínas, em
terreno particular. Já o amazonense forte de Tabatinga está
debaixo do rio, mas em época
de seca partes dele afloram.
Em inacessibilidade, o Mato
Grosso do Sul tem dois campeões. Para o forte de Coimbra,
famoso pela atuação na Guerra
do Paraguai, só existe acesso
fluvial -são oito horas de barco
a partir de Corumbá.
Já as ruínas do forte de Iguatemi ficam em uma reserva indígena -e há uma aldeia exatamente dentro dele, o que cria um curioso conflito potencial
na área de preservação.
Outros fortes têm sorte cambiante. O forte de Santa Bárbara, em Florianópolis (SC), estava em uma ilha, mas, depois de sucessivos aterros, passou a ter
a cidade em torno e quase foi
demolido no passado pela necessidade de criar uma avenida.
Hoje ali funciona a Fundação
Municipal de Cultura.
Já a fortaleza de Santa Cruz
de Anhatomirim, no vizinho
município de Governador Celso Ramos, estava em ruínas até
os anos 70, mas foi aos poucos
sendo restaurada, com apoio da
Universidade Federal de Santa
Catarina, que também cuida de
outras fortificações que defendiam a região.
Os poucos vestígios remanescentes da fortaleza de Santo
Antônio, em São Luís (MA), estão tombados, mas são quase
invisíveis. Parte dela está sob a
sede do governo estadual, o Palácio dos Leões; e já houve governadores que queriam fazer
obras que praticamente acabariam com o pouco que resta.
Críticas ao "paisagismo"
O arquiteto Mário Mendonça de Oliveira, professor da UFBA (Universidade Federal da
Bahia) critica os jardins em torno dos fortes, o que chama de"paisagismo que altera a imagem de poderio da fortaleza".
Para ele, dessa forma o forte
deixa de ser um símbolo de poder militar e de defesa e "vira
um jardim do Éden".
Sobre o mesmo tema, o arquiteto português António Menéres, um dos vice-presidentes
da Associação Portuguesa dos
Amigos dos Castelos, se autodenomina "purista".
Portugal não tem só fortes
isolados. Tem também cidades
totalmente muradas, ou "praças-fortes". Duas delas, construídas no tradicional traçado
abaluartado, ou "italiano", permanecem em ótimo estado, Almeida e Elvas. Para facilitar o
acesso, foram feitas obras que
descaracterizaram partes das
duas cidades. Menéres deu
exemplos de Almeida, como
um acesso que destruiu parte
da muralha, ou a "limpeza" da
pedra, que perdeu seus liquens.
(RBN)
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