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DE VOLTA AO FUTURO
Autor de livro desfia história remota e recente da cidade
Geraldo Anhaia Mello, que freqüenta o Guarujá desde os cinco anos, lamenta demolição do Grande Hotel
DA REDAÇÃO
"Um beijo canibal. Nhac!".
Foi com uma dedicatória que
termina exatamente com essas
palavras que Geraldo Anhaia
Mello, 53, autografou "Guarujá
- História e Fotografias", o pequeno livro que escreveu com
imagens do Guarujá.
As palavras, escritas minutos
depois do final da entrevista,
dada por telefone, revelam um
dos momentos que mais divertem Geraldo quando o assunto
é a história da ilha de Santo
Amaro: a captura e os nove meses em que o alemão Hans Staden ficou na mão dos canibais
tupinambás (leia na pág. F8).
"O cara se safou de ser comido e fez um livro incrível, contando os hábitos da época", diz.
"E quem não tem vontade de
saber como viviam os homens
que passavam os dias andando
pelados e comendo gente?"
Geraldo gosta tanto do Guarujá, que conta histórias que viveu e que não viveu com a mesma empolgação. O resultado é
uma intrigante mistura de assuntos que, se em alguns momentos confunde o interlocutor, em outros aguça a vontade
de saber mais detalhes.
Ele é capaz de emendar Hans
Staden (nos idos de 1550) ao
planejamento da cidade (em
1892), saltando em um respiro
para a a "belle époque" da cidade -como se refere aos anos
em que o programa mais glamouroso do Guarujá era arriscar a sorte no cassino, entre
1914 e 1918, período da Primeira Guerra Mundial.
E isso só para resumir muito,
já que ele parece mesmo uma
enciclopédia guarujaense ambulante. "Vou para o Guarujá
desde os cinco anos, desde que
me conheço por gente. Acho até
que fui feito em algum canto do
Sobre-as-Ondas", diz, rindo.
Nesse edifício, Geraldo passou muitos finais de semana e
férias na infância e é para lá que
vai até hoje, quando quer surfar. "O Sobre-as-Ondas deve ter
sido o primeiro flat do Brasil.
Tinha um restaurante embaixo, que servia comida em todos
os apartamentos" lembra.
Era quando sua avó pedia para que todos penteassem os cabelos e se sentassem à mesa. "A
gente se penteava só para esperar o garçom. Era sensacional!"
Mal acaba o assunto e ele
pergunta: "Você não gostaria
de saber os nomes dos primeiros prédios do Guarujá?". E dispara: "O primeiro foi o Pitangueiras, de 1939. Depois vieram
Monduba, Stela Maris, Perequê, Guarujá e Pernambuco".
Aula dada, ele lamenta a destruição do Grand Hôtel La Plage, projetado por Ramos de
Azevedo -"Demolir aquela
maravilha foi um crime que lesa a humanidade!"- e critica a
construção da Piaçaguera-Guarujá: "Os moradores passaram
de 30 mil para 300 mil sem nenhuma estrutura para tanto".
Lá pelas tantas, diz que está,
em alusão ao Guarujá, em frente ao Copan -projeto de Oscar
Niemeyer nos anos 50. "Está
aqui na minha frente. Parece
uma onda." Mais um respiro, e
ele passa a falar da onda que
gosta de pegar no Guarujá.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)
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