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EM BUSCA DA FAMA
Quadro de calouros à moda antiga apresentado por Raul Gil revela astros que vendem até 1 milhão de CDs
Peneira pré-histórica
Sérgio Andrade/Folha Imagem
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Diante de dezenas de aspirantes ao estrelato, o maestro Gino fala sobre a seleção do programa de Raul |
RODRIGO DIONISIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O PORÃO de uma casa no bairro de Moema, São Paulo, acolhe uma "fábrica de talentos" musicais revelados aos sábados na
TV. Lá funciona a produtora Luar, responsável pelo "Programa Raul Gil", da Record.
De seu quadro de calouros, "Quem Sabe
Canta, quem não Sabe Dança", desde março
do ano passado já saiu uma série de novos
cantores e cantoras, cujos discos lançados
atingem marcas invejáveis de vendas. De quebra, a audiência da atração incomoda frequentemente a líder TV Globo, que, no horário, exibe o "Caldeirão do Huck" e o "reality
show" "Fama", que também se propõe a revelar novos talentos da música.
"E o programa é feito aqui, no porão mesmo", brinca Arnaldo Leonette, o maestro Gino. Ele e Danilo Galvão, produtor do "Quem
Sabe Canta", escolhem quem vai ao ar. Os testes acontecem às sextas-feiras.
"O que interessa é o valor musical. Não importa se é bonito, alto, baixo, branco ou negro. A prioridade é a musicalidade", afirma
Gino, quando questionado sobre os critérios
de seleção. Para Galvão, outro ponto observado é a humildade. "Se bancar a estrela aqui no
teste, imagina quando estiver no programa
ou conseguir gravar um disco? Não dá."
Candidatos "Canto profissionalmente
há 20 anos, e esta é uma oportunidade única.
O sonho de todo cantor é fechar contrato com
uma boa gravadora e ficar conhecido", diz
Eliseu Bhering, 31, um dos candidatos que
participaram dos testes do último dia 3.
Ele é um dos 8.000 inscritos em fevereiro
deste ano para uma chance diante de Danilo e
Gino (e, depois, do apresentador Raul Gil).
Outra candidata, Luciana Campeti, 24, acredita que estar no programa já ajuda. "Canto
desde os sete anos. Faço voz e violão em bares
e ficar mais conhecida abre portas."
A maioria dos calouros -80%, segundo o
maestro Gino- é formada por artistas como
Campeti, profissionais com algum tempo de
carreira em busca de espaço.
O carisma de Raul Gil também seduz. A
candidata Bethyane da Silva Alves, 20, descreve o apresentador como "um paizão que dá
oportunidade para você ser quem é de verdade no programa dele".
Para Juralia Soares de Moraes, 19, essa "imagem verdadeira passada pelo programa" conta muito. "Em outros canais, fica a impressão
de que só querem alguém bonitinho."
Ela diz ter participado da seleção para
"Popstars", do SBT. Quando foi eliminada, já
fazia parte de um grupo com 300 meninas, selecionadas a partir de 6.000 inscritas. Até o final da atração, restarão cinco escolhidas para
formar um conjunto musical.
Angela Maria Lima, 21, é outra candidata do
"Quem Sabe Canta" que também diz ter participado da seleção para a atração do SBT.
"Aqui, a gente pode mostrar o talento de verdade. Lá, com tanta gente, você cantava uma
frase e já era desclassificada. Achei tudo muito
superficial", afirma.
Concorrência Raul Gil não acredita
que programas destinados a revelar novos talentos, como "Fama" (Globo) e "Popstars"
(SBT), consigam o resultado do "Quem Sabe
Canta". "Dar a gravação de um disco é fácil.
Quero ver segurar a peteca depois", diz.
Os vencedores do quadro assinam contrato
com a Luar Music, dirigida pelo filho do apresentador, Raulzinho. A gravadora tem parceria com a Warner, e ambas cuidam da carreira
dos artistas.
"Nenhuma gravadora nacional lançou, em
seis meses, discos com tantos cantores novos.
Todo o dinheiro ganho com quem já deu certo foi reinvestido em outros candidatos", afirma Raulzinho, que viajou aos EUA na semana
passada, a convite da revista Billboard, para
falar sobre a gravadora e o programa.
"Com o que eu ganho na Record, não preciso mexer no dinheiro dos calouros", completa o Raul pai. Atualmente, os principais artistas da Luar Music são o cantor de música negra Robinson Monteiro (mais de 1 milhão de
cópias vendidas do CD "Anjo") e a dupla lírica Rinaldo e Liriel (vendagem superior a 300
mil unidades do disco "Romance").
Esperança Entre os que já atingiram a
fama e os novatos à espera do teste, há um
grupo formado por interpretes com várias
passagens pelo palco do "Programa Raul Gil",
mas ainda sem o tão sonhado CD gravado.
Um exemplo é a candidata Marrye, 30. "Fiquei 15 semanas no programa, com índices de
audiência maravilhosos. Mas, depois de todo
esse tempo, o calouro cansa, escolhe mal o repertório. Nessa, acabei caindo. Mas foi a melhor coisa que me aconteceu. Choveram cartas e e-mails na produção pedindo a minha
volta. É por isso que quero continuar insistindo, minha hora está chegando", afirma.
O caso de Marrye não é uma exceção. Mesmo o "Anjo" Robinson precisou de muita
persistência até ser reconhecido. "Ele veio
aqui cinco vezes antes de participar. Ficava
tão nervoso que não conseguia cantar direito", conta Gino.
A soprano Liriel só formou dupla com o tenor Rinaldo após sua 11ª semana no programa (ele estava na segunda semana). Depois
do encontro, em agosto do ano passado, ainda foram precisos mais três meses para a dupla conseguir o contrato com a gravadora.
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