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DAMAS-DA-NOITE
Repórteres que não parecem nem são
Drag queens
conquistam seu
espaço na TV
com entrevistas
escrachadas e tiradas
imprevisíveis
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RODRIGO DIONISIO
DA REPORTAGEM LOCAL
PRÓDIGA EM (re)criar tipos e
(re)inventar modas, a TV brasileira
abriu espaço nobre há cerca de um ano
para um personagem: a drag queen repórter. Nada de novo, se é que alguém
lembra de Ru Paul e seu "talk show",
"The Ru Paul Show", da VH1 norte-americana, que chegou a ser exibido no Brasil
pelo Multishow no final da década de 90.
A diferença, entretanto, está na aparente longevidade das versões nacionais.
"Essa história de dar ibope por ser drag
queen já passou. Hoje, se eu tivesse entrado na TV só por isso, já teria perdido
meu emprego. Não estou aqui por ser
gay, mas por ser competente", afirma
Léo Áquilla, 25, repórter e produtor do
programa "Noite Afora", da Rede TV!.
Ele não revela seu verdadeiro nome e
diz não aparecer oficialmente na emissora sem estar devidamente caracterizado.
"Se tem alguma reunião lá, meio-dia, a
bicha chega "montada". Vou aplicar o
golpe da Tiazinha: para tirar a máscara,
eu quero ganhar", diz, rindo.
Há pouco mais de um ano na tela,
Áquilla começou no "Noite Afora" com
o quadro semanal "Sonho Erótico". Depois, passou a acumular outro bloco,
diário, chamado "Blitz Noite Afora". A
apresentadora Monique Evans se refere
a ele como "a estrela do programa".
Apesar da deferência, é certo que a verdadeira estrela entre as drags repórteres
é Nany People, 37. Ela é a responsável
por alguns dos momentos mais divertidos do programa "Hebe", no SBT. Está
na atração desde 2001, mas é uma das
pioneiras do gênero na TV.
Nany estreou em 1997, no "Comando
da Madrugada" da extinta Manchete.
Quando a emissora saiu do ar, a personagem se mudou por dez meses para o
"Flash", de Amaury Júnior. Depois, retornou ao "Comando", à época na TV
Gazeta, onde ficou até o ano passado.
Como Áquilla, Nany também não revela seu nome nem é vista sem estar produzida. "Eu exijo não aparecer "desmontada". Você já viu a Branca de Neve sem
aquele vestido e a gola alta? Ela está lá,
limpando a casa, de vestidão e gola alta.
Quanto à identidade, o [ator] Paulo Goulart disse uma vez: "Esse é seu nome artístico, não é? Para que saber mais?"."
Semelhanças Esconder o nome e
manter publicamente a personagem não
são os únicos fatos que unem Áquilla e
Nany. Os dois começaram suas carreiras
no teatro e descobriram o papel de drag
queen como uma forma melhor remunerada e destacada para ganhar a vida.
"Consegui como drag o que não consegui como ator. Nunca pensei que fosse
chegar tão longe como artista", diz Nany.
Áquilla, que começou a se vestir de
mulher aos 13 anos, após interpretar
uma boneca em uma peça infantil, afirma estar mais interessado em ser conhecido do que em dinheiro. Em 1999 vendeu seu apartamento e alugou a casa de
shows paulistana Palace, por uma noite,
para apresentar um musical protagonizado por sua personagem.
Afirma que a frase que mais ouviu na
época foi: "Bicha, cê tá louca?". Comprou
a idéia e lançou o CD independente "Tô
Lôca", também em 99. Um ano depois,
alugou outra casa de shows, o Tom Brasil. Para breve, pretende subir ao palco
do Olympia, também em São Paulo.
"Estar na TV é uma maneira de me
manter em evidência. Com os shows, havia um burburinho antes e depois, mas
acabava logo. Eu amo televisão e pretendo continuar trabalhando com isso. Só
gostaria de um dia poder aparecer sem
ela [a personagem". Adoraria ir a um
programa e só ter de passar um pó para
entrar no ar. Hoje, gasto duas horas para
me transformar", diz.
Os dois artistas também combinam na
hora de falar de suas vidas com e sem
seus personagens. "Montada", você tem
uma autonomia que não tem normalmente. Primeiro por estar 20 centímetros acima do nível do mar [referindo-se
ao tamanho do salto que usa". Quando
chego em casa e tiro tudo isso, sou só o filho da dona Ivone", diz Nany.
"Tenho dupla personalidade. Sou um
panaca, sou tímido, muito tímido. Ela [a
personagem] é atirada, chega quebrando
tudo, dando ordem. Às vezes, me vejo no
vídeo e penso: gente, eu não acredito que
isso sou eu", afirma, rindo, Áquilla.
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