|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Quanto custa o inverno
Tecidos fi cam mais leves em função do aquecimento global, mas roupas da estação são sempre mais caras
EDITORA-ASSISTENTE DO VITRINE
Em qualquer lugar do mundo
o vestuário de inverno é mais
caro que o de verão, tudo bem.
Mas por que, no Brasil, ele é tão
mais caro? Se é que é.
Essa é a percepção de quem
compra e vê, na vitrine, que um
casaquinho de grife nacional
(ninguém está falando de lã pura) dificilmente custa menos de
três digítos em começo de estação -para não citar as peças
que passam de R$ 1.000. Mas
quem fabrica e vende argumenta que os preços das roupas de
frio brasileiras não são assim
tão estratosféricos.
Segundo Fernando Pimentel, diretor-superintendente da
Abit (Associação Brasileira de
Indústria Têxtil e de Confecção), o Brasil tem moda inverno
mais em conta que a Europa. Já
em relação aos preços nos Estados Unidos, ele diz que não dá
para comparar: "Não existe nenhum outro país com tanta
competitividade no varejo. Os
EUA são o maior mercado consumidor do mundo", justifica.
A roupa de inverno, em qualquer país, é mais cara porque
exige mais tecido. Como os tecidos são vendidos por peso,
custam mais. Alguns também
são mais "inteligentes": esquentam mais sem que sejam
mais pesados. "Tecido de inverno é mais caro. Se as cores são
mais escuras, fica ainda mais
caro. Se tem mais densidade de
fios e da malha, custa mais a ser
produzido", diz Pimentel.
O acabamento das peças,
mais complexo, também encarece. "Roupa de inverno é mais
forrada. É um segundo tecido, e
tem o custo da mão-de-obra para forrar", diz Roberto Davidowicz, sócio da grife Uma.
Outro fator que ajuda a alavancar os preços das roupas é a
curta duração do frio no país.
Isso faz com que a estação seja
encarada como "de risco" pelos
comerciantes, segundo Pimentel. "Um encalhe de inverno é
um perigo".
100% de lucro
Marcel Solimeo, economista
da Associação Comercial de
São Paulo, também diz que a irregularidade da estação no Brasil puxa os preços. Segundo ele,
o medo de ficar com mercadoria em estoque faz com que alguns lojistas elevem a sua margem. "Produtos mais sofisticados têm margem de lucro de
100% no começo da estação.
Nos mais massificados, a margem bruta é menor, cerca de
60%, e depois vai caindo", diz.
"Se for uma loja de shopping,
o lojista coloca uma margem de
pelo menos 100%, ou não consegue pagar os custos. Numa loja de rua, essa margem é de cerca de 85%. Mas não significa
que o lojista tenha isso de lucro.
Esse valor se perde entre impostos e custos. Muita gente
tem enveredado para a importação, porque consegue partir
de um preço inferior para tentar ter mais lucro", diz Ronald
Masijah, presidente do Sindicato das Indústrias de Vestuário de São Paulo.
O discurso de quem trabalha
de maneira direta ou indireta
no setor de vestuário vincula
uma eventual queda nos preços
das roupas à redução de impostos. Hoje uma peça de roupa,
em geral, tem 34,67% de impostos, segundo o Instituto
Brasileiro de Planejamento
Tributário. "Com a diminuição
dos impostos haveria uma redução drástica de preços, e o
consumo aumentaria", diz Masijah. "Nos EUA, por exemplo,
não se taxa investimento. Aqui,
sim", endossa Pimentel.
(LM)
Texto Anterior: A hora do 'efeito-cebola' Próximo Texto: Preço de jeans caiu em dez anos, nos EUA Índice
|