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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]
MICOS DE PLÁSTICO
Lojistas oferecem "desconto" para quem paga em dinheiro ou cheque, para não pagar as taxas cobradas pelos cartões
OS CARTÕES DE CRÉDITO e de
débito se popularizaram no
Brasil. São práticos e facilitam certo controle de gastos, pois
reúnem, em uma só fatura, a relação
de gastos diversos. Indicam, também, quando as compras são parceladas, quantas vezes você ainda terá
de arcar com aquele pagamento.
Os cartões de débito seriam um
ovo de Colombo: fáceis de carregar,
levam o dinheiro imediatamente
para a conta de quem vendeu.
Mas as operadoras de cartões de
crédito resolveram atirar nos próprios pés. Fazer roleta-russa com
seus mercados.
Está se tornando comum, no comércio, que o lojista ofereça um
"desconto" para quem pagar à vista
(em dinheiro ou cheque). Tudo isso
para não arcar com as taxas absurdas cobradas pelas administradoras
do "dinheiro de plástico".
O preço diferente para pagamento
com cartão é prática abusiva punida
pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC). Até o boleto bancário e o
cheque, que pareciam fadados a definhar rumo à extinção, ganharam
sobrevida com a política míope das
administradoras. Na verdade, para
ser mais exata, pela ganância dos
bancos, que exigem taxas maiores
das empresas de cartões de crédito
para correr o risco da operação.
As operadoras pagaram aos bancos e arrocharam as lojas. Os lojistas
chiaram e contra-atacaram, reduzindo o parcelamento sem juros no
cartão, oferecendo descontos para
pagamentos em boletos e cheques.
E o consumidor? Aí fica a parte
mais fraca, onde a corda sempre arrebenta. Nós, consumidores, que
não podemos nem sonhar em usar o
crédito rotativo dos cartões (no qual
incidem juros escorchantes e impagáveis), agora também temos um ou
dois cartões, de bandeiras diversas,
mas não temos crédito verdadeiro.
Em julho, o Brasil deve contar
com 100 milhões de cartões de crédito. Mas outra liderança incomoda,
e muito, principalmente para os
consumidores: os cartões já provocam mais reclamações do que os
serviços de telefonia nos órgãos de
defesa do consumidor. Resultado do
mau atendimento das administradoras, dos juros elevados e da dificuldade de calcular o valor das parcelas devidas.
As operadoras alegam que os aumentos de taxas para lojistas foram
localizados e que se referem principalmente ao parcelamento sem juros. Também pretendem compartilhar a maquininha que lê os cartões
(POS) para reduzir custos.
Que encontrem, mesmo, saídas
que evitem o banimento dos cartões
do comércio. Aproveitando essa boa
disposição, por que não reduzem as
taxas descomunais que cobram de
seus clientes, quando, talvez por
descuido ou masoquismo, financiam uma compra com juros?
Afinal, tratar o consumidor como
cliente, com respeito e equilíbrio,
não tem preço. As medidas para reduzir os danos ao consumidor têm
de ser imediatas, porque a vida é
agora. E ações como essas podem
marcar época.
Caso contrário, bem, correm sério
risco de se tornar micos de plástico.
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