Agência Standard &
Poor's dá ao Brasil classificação de
destino seguro para investidores; Bolsa sobe 6,33%, maior
alta desde 2002
Melhora da classificação
vem antes das previsões; entrada de recursos de estrangeiros
deve crescer e pressionar mais o câmbio
Bem antes do que previam o governo e o mercado financeiro
-e após anos de espera-, o Brasil conquistou o chamado
grau de investimento. Concedida ontem pela agência Standard
& Poor's, a classificação é uma espécie
de "selo de qualidade": indica aos investidores
que o país é um destino seguro para o dinheiro,
pois teria condições de honrar suas dívidas.
O efeito mais direto da mudança é o provável
aumento, a partir de agora, do volume de recursos estrangeiros
que entram no país, tanto para aplicações
financeiras como para o setor produtivo. Alguns grandes fundos
de pensão pelo mundo, por exemplo, seguem regra de
só aplicar em países e empresas com esse "selo".
"A elevação reflete uma combinação
de fatores. Estamos olhando para a contínua melhora
dos indicadores econômicos do país e os sinais
de comprometimento do governo em seguir com esse processo",
explicou à Folha Lisa Schineller,
diretora de "ratings" soberanos da agência.
Segundo ela, embora o Brasil continue exibindo alguns dos
problemas que até o momento eram apontados como impeditivos
para o grau de investimento, como os altos gastos do governo,
pesaram mais na decisão o fato de a situação
da economia estar progredindo e as perspectivas futuras.
"O endividamento público ainda é grande,
maior do que o de outros países que obtiveram o grau
de investimento antes, mas o perfil do débito melhorou.
A situação fiscal não é perfeita,
porém existe um pragmatismo na sua administração",
afirmou Schineller. Contaram também o forte crescimento
do PIB e a atuação do Banco Central para manter
a inflação sob controle, de acordo com ela.
Na escala da S&P, o país subiu um degrau. A nota
da dívida de longo prazo em moeda estrangeira, a mais
significativa, passou de "BB+" para "BBB-".
O grau de investimento tem dez subdivisões, e, com
a elevação, o Brasil alcançou o nível
mais baixo dentro dessa categoria, ao lado de nações
como a Índia e o Cazaquistão. No topo, que é
o patamar "AAA", estão países como
os EUA, o Reino Unido e a Dinamarca, considerados de risco
baixíssimo.
Dez empresas brasileiras também tiveram sua nota elevada
pela S&P. Algumas, como o Itaú e o Bradesco, já
tinham grau de investimento. O Banco do Brasil, o BNDES e
a Eletrobrás passaram a detê-lo.
A expectativa do próprio governo e do mercado era a
de que a elevação do país viesse apenas
no segundo semestre ou no começo de 2009.
A S&P é a maior agência de classificação
de risco, e espera-se que as outras duas grandes do setor
logo repitam a medida tomada por ela. A Moody's Service ressaltou,
ontem, que acompanha a situação fiscal do Brasil.
Já a Fitch Ratings informou, por meio de comunicado
distribuído à imprensa, que uma equipe de analistas
está no Brasil neste momento para reavaliar a classificação
do país. A promoção do país ocorre
num momento em que a eficiência das agências é
colocada em xeque no mundo devido às falhas na previsão
da crise imobiliária e financeira nos EUA.
Reações
O governo comemorou a notícia. O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse que o país vive um "momento
mágico". O ministro da Fazenda, Guido Mantega,
afirmou que o Brasil entrou para o "clube" dos países
"mais respeitados e sérios" do mundo. O presidente
do Banco Central, Henrique Meirelles, ressaltou que a notícia
"deve aumentar o fluxo de investimentos estrangeiros
diretos ao longo do tempo".
A reação do mercado foi de euforia. A Bovespa
avançou 6,3%, maior alta desde 2002, e o dólar
caiu 2,4% em relação ao real, cotado a R$ 1,664.
A elevação foi recebida com surpresa por economistas.
"Creio que a nota tenha sido concedida agora, em meio
à crise global, porque o país mostrou que a
sua economia tem condições de atravessar períodos
difíceis sem entrar em recessão", comenta
Marcela Meirelles, analista para a América Latina da
administradora de recursos americana TCW.
Por outro lado, alguns economistas ressaltam que a nova classificação
pode trazer efeitos negativos. "Com a entrada de mais
capital e a oferta de crédito em expansão, a
taxa de câmbio, já apreciada, pode se valorizar
ainda mais", afirma Ricardo Carneiro, professor da Unicamp.
A questão fiscal é vista como crucial para que
o Brasil mantenha o novo "selo".
Denyse Godoy
Sérgio Dávila
Folha de S.Paulo
Leia
a íntegra do comunicado da Standard & Poor's
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