Para o coordenador do curso de medicina da UFBA (Universidade
Federal da Bahia), Antônio Dantas, 69, o baixo rendimento
dos alunos da faculdade no Enade (Exame Nacional de Desempenho
dos Estudantes) se deve ao "baixo QI [quociente de inteligência]
dos baianos".
Os alunos de medicina da UFBA obtiveram conceito dois no exame.
"Se não houve boicote dos estudantes, o que não
acredito, o resultado mostra a baixa inteligência dos
alunos."
Para Dantas, que é baiano, o corpo docente da faculdade
é qualificado e não seria justificativa para
o mau resultado no exame. O coordenador disse que o suposto
baixo QI dos baianos é hereditário e verificado
"por quem convive [com pessoas nascidas na Bahia]".
"O baiano toca berimbau porque só tem uma corda.
Se tivesse mais [cordas], não conseguiria", afirmou,
ressalvando que há exceções a sua regra.
Questionado se já foi alvo de críticas, Dantas
disse que é "franco" e que "reconhece
a limitação dos que o cercam". Ele afirmou
que não foi notificado pelo MEC sobre os resultados
e que vai analisar os erros dos alunos assim que recebê-los.
A diretora da Faculdade de Medicina da Ufal (Universidade
Federal de Alagoas),
Rosana Vilela, disse que uma possível explicação
para o baixo rendimento dos alunos de medicina (conceito dois)
foi a mudança no currículo em 2006.
"A nota [do Enade] é construída basicamente
em cima da nota do concluinte, que é o aluno do currículo
antigo, sendo que a prova é feita baseada nas novas
diretrizes que norteiam o currículo novo", disse.
A UFPA (Universidade Federal do Pará) -que recebeu
conceito dois- informou, em nota, que só se pronunciará
sobre a avaliação quando for notificada. Na
UFAM (Universidade Federal do Amazonas), ninguém foi
localizado para comentar a nota do Enade.
Boicote
Para Arquimedes Ciloni, presidente da Andifes (associação
que representa os reitores das universidades federais), é
provável que o desempenho ruim de quatro cursos de
medicina de universidades federais no Enade seja resultado
de um boicote dos estudantes.
"Chama a minha atenção a situação
da UFBA, que tem condições de oferta de ótima
qualidade", afirmou.
Ele citou ainda o fato de a universidade ser considerada tradicional
-ela abriga o primeiro curso de medicina criado no Brasil,
no ano de 1808. Para Ciloni, embora não seja um fator
decisivo para o desempenho dos estudantes, um dos maiores
problemas dos cursos de medicina das instituições
federais hoje é a dívida dos hospitais universitários.
O débito -que, segundo ele, já soma R$ 450 milhões-
dificulta a modernização dos equipamentos, disse.
A Folha procurou a Anup (Associação Nacional
das Universidades Particulares), mas ninguém ligou
de volta até o fechamento desta edição.
Renata Baptista
Colaboraram SÍLVIA FREIRE, da Agência Folha,
e KÁTIA BRASIL, da Agência Folha, em Manaus
Folha de S.Paulo
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