Erika
Vieira
Cerca de 20% das crianças são
vítimas de agressões graves como sufocamento,
espancamento, queimaduras, fraturas e outros tipos de lesões.
O índice foi levantado em um estudo que foge dos padrões
usados no Brasil até hoje. Os pesquisadores visitaram
as casas da periferia de Embu, região metropolitana
de São Paulo, em busca de casos de violência
infantil. Geralmente esse tipo de pesquisa é elaborada
a partir de dados oficiais, não sendo possível
retratar o quadro mais abrangente, pois grande parte dos casos
não chegam até os pronto-socorros, delegacias
ou centros de amparo a criança e ao adolescente.
Intitulado de “Punição física
grave e problemas de saúde mental em população
de crianças e adolescentes economicamente desfavorecida”,
realizado por pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo), Mackenzie e Columbia University (EUA),
o estudo é um piloto que analisou 90 casos. Uma pesquisa
maior, nos mesmos moldes, já encontra-se em andamento
com 800 casos. Por enquanto, os resultados pré-liminares
estão sendo iguais ao do piloto, segundo a pesquisadora
da Unifesp e professora do programa de pós-graduação
em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, Cristiane Silvestre de Paula.
“O caso da Isabella é um exemplo extremo desse
tipo de agressão”, diz a pesquisadora da Universidade
Federal de São Paulo e professora do programa de pós-graduação
em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, Cristiane Silvestre de Paula. Segundo o estudo,
a mãe é tida como a principal agressora porque
é a pessoa que fica mais tempo com a criança.
A agressão, geralmente, está ligada a educação.
“A mãe diz que não bate no seu filho para
machucá-lo, mas sim para educá-lo. Um exemplo
é a mãe que queima o filho com ferro quente
para ele aprender a não tirar mais dinheiro da carteira.
As mães entendem que fazem isso para educar.”
Silvestre complementa: “no mundo a classe baixa e as
mães solteiras são os grupos de maior risco,
mas no Brasil ainda não há um estudo oficial
que se comprove isso.”
Outro dado levantado foi que o número de crianças
agredidas é maior entre as de sexo masculino. Diferente
do abuso sexual que atinge mais adolescentes do sexo feminino.
A população alvo do estudo foi a de baixa renda
por viverem em um contexto mais violento. “As taxas
de homicídios são maiores nessas regiões,
as crianças ficam mais expostas a situações
de risco.” Também há maior número
de casos porque são menos denunciados em função
das crianças ficarem a maior parte do tempo em casa
e não irem a médicos, escola, serviços
de lazer, lugares onde terão profissionais para diagnosticar
sinais de agressão e denunciar. “Muitas vezes,
os vizinhos são as únicas testemunhas, mas preferem
não denunciar por achar que se trata de um problema
de família. Assim, a violência doméstica
infantil é torna-se mais velada que a violência
urbana”, conclui Silvestre.
Veja na íntegra: Punição
física grave e problemas de saúde mental em
população de crianças e adolescentes
economicamente desfavorecida.
Leia também a pesquisa
"A ponta do iceberg", realizada pelo Laboratório
de Estudos da Criança (Lacri), da USP com dados de
1996 a 2007, em todos esses anos foram notificados 159.754
casos de violência doméstica infantil.
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