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Vale tornou-se esta semana a primeira empresa do brasileira
a criar um programa de recrutamento internacional de alto
nível, nos moldes dos que são feitos tradicionalmente
por grandes empresas multinacionais. Desde ontem estão
disponíveis no seu site as regras para inscrição
no programa de estágio de férias, ou "summer
job", destinado a recrutar nove alunos de cursos de MBA
das cem melhores escolas mundiais de negócios, classificadas
pelo ranking do jornal britânico "Financial Times".
Dos selecionados, sete irão estagiar durante três
meses no Brasil, um no Canadá e outro na Austrália.
"Queremos ter acesso aos melhores talentos do mundo",
disse ao Valor Hanna Meirelles, gerente de Recrutamento Internacional
e Projetos da Vale. Ela destacou que essa é uma prática
clássica das grandes corporações mundial.
Quem for escolhido receberá no período bolsa-auxílio
de US$ 4.300, entre outros benefícios. Não há
restrição de idade e nem de nacionalidade.
Um dos objetivos do programa, segundo Hanna, é "capturar
brasileiros talentosos que estão estudando em universidades
lá fora". Os candidatos selecionados terão
que, ao final do período, apresentar um projeto relevante
à Vale. Após a conclusão do MBA, desponta
como potencial candidato a trabalhar na empresa. A Vale fará
também recrutamento pró-ativo nas 25 melhores
escolas, dos Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, França,
Índia e China.
Chico Santos
Valor Econômico
Alunos de
engenharia são pagos apenas para estudar
Estudantes ganham bolsas
de empresas sem trabalhar, devido à disputa no mercado
Uma fabricante de tubos paga R$ 750 para 40 alunos da
USP, ITA e FEI, apenas para que eles mantenham contato com
a empresa
Em meio a uma intensa disputa no mercado por estagiários
e recém-formados em engenharia, alunos da área
têm recebido uma proposta tentadora: auxílio
financeiro em troca apenas da manutenção de
um relacionamento com a empresa. Sem precisar trabalhar.
O benefício é oferecido, por exemplo, pela TenarisConfab,
fabricante de tubos de aço soldado, que fornece material
para a Petrobras. Aos melhores estudantes do ITA, USP e Centro
Universitário da FEI, a empresa dá uma bolsa
mensal de R$ 750. Neste ano, são 40 alunos participantes
do programa.
Os beneficiados não precisam cumprir carga horária
nem se comprometer a seguir na empresa após a formatura.
A única contrapartida é continuar o curso. Podem
até estagiar em outros lugares.
"Queremos apresentar a empresa aos alunos com bom desempenho
e também ajudá-los a manter os estudos",
afirma Ivani Silveira, gerente de seleção da
TenarisConfab.
"Aqui na Poli as empresas caem matando atrás de
estudantes", disse Rafael Bechelli Paviato, 23, que está
no quinto ano da Escola Politécnica da USP e é
um dos beneficiados pelo programa. "A bolsa é
uma forma de a Confab se apresentar aos alunos. Ajuda a pagar
a república onde moro."
A aproximação que a empresa pretende fazer com
os estudantes já surtiu efeito para Álvaro Guilherme
Junqueira dos Santos, 22, da USP. Após ganhar a bolsa,
ele se inscreveu no programa de estágio da empresa
e passou. Agora, acumula dois auxílios financeiros.
"Com a bolsa, conheci como funciona a empresa e me interessei."
Diferentemente do caso da TenarisConfab -que possui um programa
articulado de bolsas que não exigem carga horária
de trabalho-, outras empresas adotam iniciativa semelhante,
de forma esporádica.
"Tive alunos que foram fazer estágio de dois meses
e a empresa, para garantir que eles seguissem lá depois
de se formarem, estenderam a ajuda até o final do ano,
sem que precisassem cumprir uma carga horária",
diz o coordenador do curso de engenharia mecânica da
Unesp, Edson Del Rio Vieira.
"Como o mercado está muito aquecido, as empresas
estão tentando pegar o engenheiro ainda dentro da escola",
afirma o vice-diretor da Poli-USP, José Roberto Cardoso.
A intensa procura por engenheiros e estagiários da
área está ligada ao crescimento econômico
do país nos últimos anos, que chegou em 5,4%
em 2007, após um período de estagnação.
Com a expansão, cresce a necessidade de contratação
de profissionais em diversas áreas.
"O problema é que temos poucas pessoas formadas
em áreas ligadas à engenharia. Isso se reflete
na busca pelos nossos estudantes", afirma o reitor do
Centro Universitário da FEI, Marcio Rillo.
Dados internacionais reforçam a análise de Rillo.
Segundo a OCDE (organização que reúne
os países desenvolvidos), 4,5% dos brasileiros com
título de graduação se formaram na área
de engenharia. A proporção na Coréia
do Sul é de 27,1%, e no Chile, de 15,6%.
"Não temos uma quantidade suficiente de estudantes
saindo da universidade na especialização que
precisamos", afirma o gerente do programa de especialização
da Embraer, Sidney Lage. A solução da empresa
foi chamar engenheiros de áreas diferentes da aeronáutica
para treinar dentro da empresa.
O mercado aquecido traz reflexos nos salários. De acordo
com o Confea (Conselho Federal dos Engenheiros), a média
de vencimentos de engenheiros recém-formados subiu
da faixa de R$ 1.000 a R$ 1.500 em 2006 para R$ 4.000 a R$
6.000 neste ano.
A disputa acirrada por estagiários beneficia não
apenas os alunos no final do curso.
"Como os estudantes do terceiro e quartos anos estão
todos com estágio, as empresas vão atrás
dos que estão no segundo e terceiros anos", afirma
o diretor da Escola de Engenharia do Instituto Mauá,
Mário Cavaleiro Fernandes Garrote. Segundo dados da
escola, o número de alunos com estágio subiu
20% entre 2006 e 2007.
Fábio Takahashi
Folha de S.Paulo
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