Karina
Costa
especial para o GD
Insultos, exposição ao ridículo e agressões
mais veladas como rejeição, difamação
e isolamento fazem parte do cotidiano dos alunos do ensino
fundamental e médio, de escolas públicas e particulares
do estado de São Paulo. Pelo menos uma vez por ano,
60% sofrem insultos e 45% são vítimas de difamação
pelos próprios colegas. E os próprios alunos
acreditam que o conflito entre eles na escola não é
tranqüilo - 23,4% concordam, de acordo com a pesquisa
"Convivência, conflitos e educação
nas escolas de São Paulo".
Segundo os dados apresentados no 1 Encontro Internacional
Pátio-ISME de Educação para a Cidadania,
33,1% dos alunos se queixam de terem sido xingados; 20,1%
já apanharam; 17,8% foram rejeitados/ignorados pelos
alunos e 10,6% foram chantageados. A pesquisa mostra que a
freqüência nas agressões tende a ser maior
entre alunos de escola pública, apesar de a proporção
referente aos alunos de escola particular ser alta. A freqüência
nas agressões sofridas atinge mais os meninos do que
as meninas, em todos os casos pesquisados. Os meninos estão
presentes mais em conflitos e as meninas sofrem mais com rejeição
dos colegas.
Os alunos da 6º série são os que mais
sofrem com problemas de conflito. De acordo com a pesquisa,
pelo menos 20% desses alunos são xingados toda semana
ou por mais vezes; 19,4% empurrados; 17,1% ridicularizados
com apelidos; 10,2% difamados no mesmo período de tempo.
Esse número cai conforme o decorrer da escolaridade,
segundo a responsável pela pesquisa, Maria Isabel da
Silva Leme.
"Muitas vezes, professores e gestores acreditam que
essas coisas acontecem porque os pais são permissivos
com os filhos. De fato, há pais permissivos porém
sabe-se que os adolescentes seguem e formam seus próprios
grupos, cometem tais delitos para intimidar ou ganhar o respeito
dos mesmos, coisa que provavelmente os pais não aceitam.
É preciso fazer na escola um trabalho para gerir esses
conflitos ao invés de ficar só culpando os pais",
recomenda.
E quem comete o delito também assume o que faz, segundo
aponta o relatório. Insultos (exposição
ao ridículo, empurrão e o ato de ignorar) são
assumidos por 44% dos alunos; 45% dizem que já ridicularizaram
e 39% já empurraram algum colega. Agressões
como bater, são assumidas por 20% dos alunos; 14% dizem
ter chantageado e difamado; 10% dizem ter roubado e 7% dizem
ter assediado sexualmente (verbal ou fisicamente) colegas.
Os alunos de escola pública assumem mais delitos como
roubo/difamação de pertences e empurrões,
enquanto os alunos de escola privada assumem mais os insultos
e a exposição ao ridículo.
E, como os diretores de escolas públicas e particulares
vêem e administram esses conflitos? Segundo os dados,
30% dos diretores de escolas privadas e 20% dos diretores
de escolas públicas acreditam acham pouco importante
os conflitos entre alunos. Para 11% dos gestores de escolas
particulares, a agressão dos alunos aos professores
é pouco importante no convívio; 7% dos diretores
de escolas públicas pensam da mesma maneira.
Os diretores, tanto de escolas públicas quanto privadas,
são quase unânimes em relação à
autonomia dos professores para conversarem com os alunos no
caso de um estudante ter sido ignorado ou ridicularizado.
Quando se trata de roubos de pertences de colegas, quando
o aluno sofre ameaças ou é freqüentemente
ridicularizado preferem que o problema seja reportado à
direção da escola para que sejam tomas as devidas
providências.
No entendimento dos gestores (83,3%), a escola promove atividades
de acolhida aos alunos; 70,4% dizem que a escola tem algum
programa de mediação de conflitos. "Mesmo
quando o índice de conflito é baixo, as escolas
têm que trabalhar essa questão no ambiente escolar.
Muitos gestores acham que o conflito é uma coisa natural
da idade. E, quando não há conflitos nas escolas,
acham que está tudo tranqüilo. Porém, paz
não significa ausência de conflito e sim conflito
bem negociado ou não percebido pelos gestores,"
alerta Leme, mestre e doutora em psicologia escolar do desenvolvimento
humano pela Universidade de São Paulo (USP).
Para que o problema seja solucionado, a especialista acredita
ser de grande importância a participação
de diretores, professores e do poder público nas ações.
"Os professores têm que trabalhar mais essas questões
na escola, não só via palestras mas com outras
atividades que, de fato, tragam solução. Poderia
ser cobra dos diretores menos responsabilidade administrativa
para que tenha tempo de desenvolver e cuidar de seu projeto
pedagógico. Já o poder público, poderia
participar coordenando um programa integral de monitoramento,
acompanhando mais de perto questões que vão
desde depredamento da escola por parte dos alunos até
questões mais graves," aponta.
Para chegar ao resultado, foram consultados quatro mil alunos
e 55 diretores das escolas públicas e privadas: 86%
das pessoas que participaram da pesquisa são de escola
pública e 14%, de escola privada. Os dados foram apresentados
durante o "1º Encontro Internacional Pátio
ISME de Educação para Cidadania", realizado
na cidade de São Paulo.
Boa
convivência entre alunos é fundamental para cidadania
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