A
Confederação Nacional da Indústria (CNI)
fez extenso inventário sobre a qualificação
da mão-de-obra na indústria. Descobriu que a
falta de capacitação do trabalhador é
um fato com impactos negativos sobretudo na área de
produção, o que restringe o aumento da competitividade.
Das 1.714 indústrias consultadas, 56% vêem como
um problema para a empresa a falta de mão-de-obra qualificada.
Ele é maior para as pequenas empresas (60%), mas também
é registrado, com ênfase, entre as de médio
e grande porte - 55% e 45%, respectivamente.
A pesquisa, que contou com a participação de
949 pequenas empresas, 507 médias e 258 grandes, foi
realizada entre 29 de junho e 18 de julho.
"Com a retomada do crescimento era previsível
que isso ocorresse", diz Renato da Fonseca, gerente da
unidade de pesquisa da CNI. Espontaneamente, os empresários
destacaram que, "mesmo nos casos onde o grau de capacitação
requerido não é muito elevado, as empresas enfrentam
dificuldade devido à baixa qualidade da educação
básica", o que dificulta o processo de aprendizagem
na própria empresa por meio de cursos técnicos
e profissionalizantes.
Os impactos ocorrem "em intensidade diferente dependendo
da área organizacional da empresa". A área
de produção é a mais afetada, segundo
68% dos entrevistados, com a área de pesquisa e desenvolvimento
no segundo lugar com 11%, e a administrativa e gerencial em
terceiro, com 7%. A produção é a área
mais afetada, independentemente do porte da empresa.
No que se refere ao desempenho, 69% das empresas responderam
que a falta de mão-de-obra qualificada "afeta,
sobretudo, a busca de eficiência", o que, segundo
a pesquisa, "é coerente com o fato do maior impacto
do mesmo problema se dar na área de produção".
Mas 36% das empresas também mencionaram que a falta
de mão-de-obra qualificada prejudica a busca pela qualidade
dos produtos. Problema afeta ainda a aquisição
de novas tecnologias (25%) e o desenvolvimento de novos produtos
(23%).
A busca pela eficiência é a ação
mais afetada para todas as empresas, mas elas divergem em
relação aos demais itens, quando separadas por
porte. Para as grandes, a segunda ação mais
prejudicada é a aquisição de novas tecnologias
(29%), opção que entre as pequenas empresas
(20%) ficou na última posição entre as
quatro disponíveis. Para essas empresas, a segunda
ação mais prejudicada é a busca pela
qualidade do produto (41%).
Os setores com maiores problemas com a falta de mão-de-obra
qualificada são álcool (76%), vestuário
(75%), outros equipamentos de transporte (71%), indústrias
extrativas (71%), máquinas e equipamentos (70%) e veículos
automotores (67%). São também os setores mais
impulsionados pelo crescimento econômico, muito embora
os técnicos da CNI tenham estranhado a presença
da área de vestuário, hoje sob forte concorrência
dos produtos asiáticos.
Diante desse quadro, o que fazem as empresas para capacitar
ou manter a mão-de-obra qualificada? Apenas 30% recorrem
à contratação direta no mercado, as 70%
restantes procuram resolver o problema capacitando os trabalhadores
após a contratação. As empresas que investem
em programas de capacitação chegam a 84% do
universo pesquisado. Entre as grandes empresas, esse percentual
chega a 96%. Regionalmente, as empresas do Sul são
as que mais investem em capacitação de mão-de-obra
(90%); em termos setoriais, o de álcool e outros equipamentos
e transporte (100%), e o de máquinas e materiais elétricos
(90%).
Entre as empresas que dizem ter necessidade de investir em
qualificação (97%), a grande maioria (78%) apontou
mais de uma dificuldade no processo: falta de oferta de cursos
adequados (52%), custo elevado (39%), alta rotatividade dos
trabalhadores (25%) e pouco interesse dos trabalhadores (24%).
Para manter a mão-de-obra qualificada, a indústria
prefere dar benefícios além do salário
(64%) a pagar salários acima da média do mercado.
A maioria (69%) diz adotar política de retenção
do trabalhador qualificado.
Raymundo Costa
Valor Econômico (matéria publicada em 01/10/2007).
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