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Dois
anos consecutivos de crescimento trouxeram de volta ao mercado
de trabalho profissionais com idade superior aos 40 anos.
Em 2005, eles aumentaram sua participação no total de pessoas
ocupadas em São Paulo, mostra levantamento do Dieese. A taxa
de desemprego caiu 9,6% no ano passado. Mas, para as faixas
etárias superiores a 40 anos, a queda foi maior.
A pesquisa do Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socio-Econômicos) mostra
que, no caso de trabalhadores de 40 a 49 anos, a queda da
taxa de desemprego, de 9,8%, foi ligeiramente maior do que
a média. Para esse contingente, a taxa de desemprego caiu
de 12,2% em 2004 para 11% no ano passado. Já entre os trabalhadores
que tem entre 50 e 59 anos, a taxa caiu 15,8%, enquanto para
os com 60 anos ou mais a queda registrada foi de 23,7%.
Mais experiência
"Depois de um processo longo de enxugamento na década de 1990,
as empresas chegaram ao final de um período recessivo com
capacidade ociosa e quadros muito enxutos. Agora elas estão
tentando recuperar o que nós podemos chamar de capacidade
cognitiva desses trabalhadores, que têm experiência", diz
Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese. Especialistas
em recrutamento e seleção confirmam a avaliação do diretor
do Dieese.
Para ajustar-se ao período de crescimento,
ainda que tímido, as empresas voltaram a procurar trabalhadores
mais experientes, aptos a assumirem postos que, de outra maneira,
exigiriam treinamento prévio para pessoas mais jovens. A mudança
do perfil produtivo da economia brasileira também contribui
para a inserção maior desse grupo no mercado de trabalho.
Com a desvalorização cambial em 1999 e a volta e inserção
de vários setores ao mercado externo, uma série de atividades
abandonadas ou que ficaram em banho-maria durante os anos
1990 foram retomadas com mais vigor, o que exigiu a busca,
por parte das empresas, de trabalhadores já experientes. "Existem
várias posições específicas que exigem profissionais com experiência.
Principalmente em áreas que estavam mais ou menos paradas
e que foram retomadas", diz Ricardo Bevilacqua, diretor-geral
da Case Consulting. Bevilacqua cita, por exemplo, o setor
ferroviário.
Carente de investimentos durante um
longo período, ele voltou a se expandir com investimentos
de empresas privadas interessadas em escoar sua produção,
caso das mineradoras, por exemplo. A solução, neste caso,
foi chamar de volta ao mercado trabalhadores aposentados.
"É uma atividade que ninguém conhecia, ninguém estudava. Tem
que trazer profissionais mais experientes para treinar os
mais novos", completa ele.
Maior participação
Com o crescimento do emprego nas faixas etárias mais altas,
também cresceu a participação do grupo no total de ocupados.
Crescimento aparentemente pequeno: o pessoal com mais de 40
anos representava 36,8% do total de ocupados em 2004 e passou
a representar 37,6% em 2005. Mas só aparentemente, alertam
os técnicos no Dieese, que dizem que mudanças estruturais
no contingente da força de trabalho ocorrem de forma gradual
e que seria, portanto, muito anormal um salto brusco na participação
de um grupo etário na população ocupada.
De qualquer forma, a expansão da população
ocupada em cada grupo deixa claro o ganho de dinamismo para
os maiores de 40 anos: 141 mil novas vagas foram preenchidas
por trabalhadores desta faixa etária, enquanto 119 mil foram
ocupadas por trabalhadores com até 39 anos. Uma expansão de
4,7% no primeiro caso e de 2,3% no caso dos trabalhadores
mais jovens. Setorialmente, foi a indústria o setor que relativamente
aumentou mais a procura por esses profissionais. O aumento
na ocupação para a faixa etária de mais de 40 anos no setor
industrial foi de 11,6%, mais do que o dobro da média de todos
os setores.
Em termos absolutos, comércio e serviços
contrataram até mais, já que os dois setores são responsáveis
por quase dois terços das vagas de trabalho, mas é na indústria
que o crescimento econômico tem mais fortemente se transformado
em oportunidades de emprego para pessoas com mais de 40 anos.
São pessoas consideradas, pelo menos pelos profissionais da
área de recrutamento e seleção, à beira da terceira idade.
Quem estuda o mercado de trabalho
diz que a terceira idade do trabalhador começa aos 45 anos,
quando se torna cada vez mais difícil conseguir uma recolocação
no mercado de trabalho. Mas a necessidade de expandir negócios
e contratar experiência parece estar "aumentando" esse limite
de idade. Há ainda quem alerte para outros fatores, além do
crescimento que, ainda que modesto, é relativamente alto para
a média dos últimos 20 anos no Brasil. "As empresas também
estão mais preocupadas com a questão da diversidade no local
de trabalho. O tema da idade, desde o estatuto do idoso, também
ganhou visibilidade nessa discussão", diz Maria de Fátima
e Silva, gerente da Divisão de Inclusão Social da Gelre.
MARCELO BILLI
da Folha de S.Paulo
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