O reconhecimento a um trabalho
científico pode vir tarde, mas não falha. Quando o físico
australiano Thomas Parnell montou, em 1927, um experimento
para demonstrar a viscosidade do piche no qual uma "gota"
de uma bola de alcatrão caía num frasco a cada nove anos,
ele jamais imaginaria que 78 anos depois, em 2005, seria contemplado
(in memorian) com o Ig Nobel, o Nobel da pesquisa inútil.
"A indicação do professor Parnell certamente mereceria aplauso
pelo novo recorde que ele estabeleceu, de maior tempo decorrido
entre a realização de um experimento científico seminal e
a contemplação com um prêmio, seja o Nobel ou o Ig Nobel",
afirmou o físico John Mainstone, da Universidade de Queensland
(Austrália), que dividiu a honra dúbia do Ig Nobel com Parnell.
Além do experimento do piche de Parnell -cuja nona gota se
encontra em formação-, neste ano, o tradicional prêmio dado
aos experimentos "que não poderiam ou não deveriam ser repetidos"
agraciou o lado, digamos, menos idílico do mundo natural:
uma estimativa matemática precisa da pressão com a qual os
pingüins antárticos expelem suas fezes.
O artigo científico descrevendo as minúcias do estudo saiu
publicado em 2003 no periódico científico "Polar Biology"
sob o título impagável de "Pressões produzidas quando os pingüins
fazem cocô -cálculos sobre a defecação aviana". "As forças
envolvidas, muito além daquelas conhecidas para seres humanos,
são altas, mas não levam a um fluxo turbulento que desperdiça
energia", escreveram os autores do estudo, o neozelandês Victor
Benno Meyer-Rochow e o húngaro Joszef Sandor Gal. Assim como
sete dos dez ganhadores do Ig Nobel deste ano, ambos se dispuseram
a comparecer à cerimônia de entrega do prêmio, ontem à noite,
no vetusto Teatro Saunders da Universidade Harvard, em Cambridge
(EUA). No entanto, tiveram o visto negado. "Esperamos que
isso não tenha a ver com a natureza explosiva de nosso trabalho",
brincaram. Bush. Os lauréis foram entregues por ganhadores
do Nobel de verdade, como Sheldon Glasgow (Física, 1979),
William Lipscomb (Química, 1976) e Dudley Herschbach (Química,
1986).
Laranja mecânica
O Ig Nobel da Paz, que já teve entre seus contemplados a Marinha
britânica e Vaticano, saiu para uma dupla de neurocientistas
da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, por um experimento
que daria inveja ao cineasta Stanley Kubrick: eles expuseram
um gafanhoto a cenas do filme "Guerra nas Estrelas", e usaram
um eletrodo para testar um determinado conjunto de neurônios
no sistema visual do inseto que responderia a objetos em rota
de colisão com ele. A vencedora em Economia foi uma jovem
designer do Laboratório de Mídia do MIT (Instituto de Tecnologia
de Massachusetts). Gauri Nanda, 26, inventou um despertador
com rodas que cai da mesa de cabeceira e se esconde toda vez
que o dono aperta o botão "soneca". O sujeito, assim, é obrigado
a sair da cama, ganhando mais tempo de trabalho no dia.
O prêmio de Literatura foi para um grupo não-identificado
de golpistas da internet nigerianos, por terem "criado e usado
e-mail para distribuir uma arrojada série de contos, assim
apresentando a milhões de leitores um rico conjunto de personagens",
como o general Sani Abacha e a sra. Mariam Saani Abacha, que
pedem do internauta "só uma pequena soma em dinheiro" para
que possam obter uma fortuna à qual têm direito e que gostariam
de dividir com o gentil internauta.
CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo
Mohammed ElBaradei e agência nuclear da ONU ganham Nobel da
Paz
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