Depois
da Daspu --grife lançada por prostitutas cariocas para produzir
roupas básicas, de festa e de batalha--, as profissionais
do sexo ganharam um veículo para expor as suas idéias.
A Aprosba (Associação das Prostitutas da Bahia) anunciou
na noite de terça-feira (7) que vai explorar uma rádio FM,
cuja concessão foi obtida por meio de um convênio com o Ministério
da Cultura.
A emissora, que deve entrar em operação até o final de abril,
será a primeira rádio explorada por uma associação de prostitutas
no Brasil, segundo a coordenadora-geral da entidade, Fátima
Medeiros, 38.
"Exercemos a nossa profissão com dignidade, mas não somos
respeitadas pela sociedade. Sempre tivemos pouco espaço na
mídia, a não ser quando há a ocorrência de crimes envolvendo
prostitutas. Vamos usar a rádio para veicular programas voltados
basicamente para a nossa categoria."
De acordo com Medeiros, a emissora vai funcionar no Pelourinho
(centro histórico), em um casarão que atualmente serve de
sede para a associação. "Os técnicos do Ministério da Cultura
já visitaram o local e sugeriram as modificações que vamos
fazer para que os aparelhos sejam instalados."
Medeiros disse que vai pedir que as próprias prostitutas
definam o nome da emissora. "Não sei se a proposta será aceita
pelo Ministério das Comunicações, mas o nome de fantasia da
emissora será Zona FM." A idéia de administrar uma emissora
de rádio surgiu no final do ano passado.
"Como sempre fazemos palestras para estudantes, discutimos
a possibilidade de propagar as nossas ações através de uma
emissora de rádio. Hoje, no Brasil, existem rádios em nome
de políticos, empresários, comerciantes e médicos, por exemplo.
Por que as prostitutas não podem ter um canal a sua disposição?"
Sem nenhuma experiência para colocar a emissora no ar, a Aprosba
informou que pretende "contratar" professores universitários
e voluntários como locutores e técnicos. "Também vamos treinar
algumas prostitutas que levam mais jeito para falar em público."
Segundo Medeiros, em seus oito anos de existência, a Aprosba
sempre participou de programas vinculados à saúde. "Já assinamos
vários convênios com órgãos federais, estaduais e municipais.
São esses acordos que têm permitido o acesso de nossas filiadas
a palestras e cursos, principalmente sobre a prevenção das
doenças sexualmente transmissíveis."
Com 3.000 associadas em Salvador --a Aprosba estima em 5.000
o número de prostitutas na capital baiana--, a entidade também
não descarta a possibilidade de recorrer à iniciativa privada
para colocar em funcionamento a emissora de rádio.
"Se precisar pedir dinheiro para empresários, vamos pedir.
A nossa causa é justa. Agora que ganhamos a concessão, não
vamos desistir jamais. Queremos demonstrar que as prostitutas
também são pessoas dignas, que exercem uma profissão como
qualquer outra.
LUIZ FRANCISCO
da Folha Online
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