Site
da CNN não filtra colaborações de usuários
e cria comunidade de colaboradores que define as notícias
que vão para a TV
Apesar de ter dominado as mesas de
discussão do seminário MediaOn, na semana passada,
não é de hoje que se discute o jornalismo cidadão–aquele
em que o leitor, ouvinte e espectador tem papel central na
captação e distribuição de notícias.
Mais precisamente desde 2003, quando o termo foi cunhado pelos
norte- americanos Shayne Bowmane Chris Willis, do The American
Press Institute.
Também vem dos EUA o exemplo mais radical dessa prática,
executado pela rede CNN comuma característica inédita:
no iReport.com, não há qualquer filtro ou edição
sobre o material postado por usuários.
Lançado em fevereiro, o site evoluiu do modelo antes
hospedado no CNN.com, um espaço em que internautas
enviavam vídeos, fotos e textos como complementos a
reportagens. Agora, o material enviado não apenas ajuda
na apuração, mas define os assuntos a serem
abordados nos noticiários mundiais da rede. A estrutura
do jornalismo da CNN mudou: há repórteres, editores,
produtores, chefes de reportagem e os internautas (ou iReporters).
Há cerca de 15 mil contribuições de espectadores
por mês– e boa parte delas é usada na televisão
e ganha matarja“ onCNN”nosite. No Brasil, nenhum
grande jornal ou portal se arriscou a tanto.
A ousadia carrega riscos, como atrelar a credibilidade e a
imagem da marca CNN a conteúdos que podem ser promocionais,
chulos ou até conter ataques sem provas a determina
da pessoa. De acordo com a produtora-sênior Lila King,
responsável pelo iReport.com, a comunidade que se fornou
em torno do site impede abusos e anomalias. “Há
uma seleção natural. Material com outras intenções
acaba indo para o fim da lista”,disse ao Link na sede
brasileira da Turner, o conglomerado de mídia que controla
aCNN.
A moderação de conteúdo pela comunidade
não é inovação da rede de televisão.
Sites de compartilhamento de notícias, como o Digg,
já usam o sistema desde 2004, quando ajudaram a forjar
o termoweb 2.0. O ranking das notícias mais populares
do dia, presente nos Diggs da vida, também foi adotado
pela CNN com o nome de “Newsiest Now”. É
uma das principais fontes de pautas da rede. “Monitoramos
o dia inteiro os assuntos que os usuários estão
comentando.
Todos os dias há surpresas e reportagens que nunca
sairiam da cabeça dos jornalistas da CNN”, afirma
Lila. A pergunta aseguir, então,élógica:
qualquer pessoa pode ser jornalista? “Não diria
isso. Mas nós acreditamos que qualquer pessoa pode
ajudar muito no processo de produção jornalística,
reportando fatos que acontecem ao redor dela.”
Nos EUA e emvários países, não é
necessário se graduarem jornalismo para exercer a profissão,
como ocorre no Brasil. A própria Lila King tem diplomas
em filosofia e literatura comparada. Por isso, a CNN tem um
tutorial online para “ensinar” técnicas
jornalísticas a pessoas com outras formações,
como gravação de vídeos, fotos e estilo
de texto, além de dicas para identificar “uma
boa história”. O resultado é digno das
boas redações de jornal. Veio de um iReporter
um furo de reportagem sobre o massa creda Universidade Virginia
Tech, em 2007,
quando o estudante Cho Seunghui matou 32 pessoas nos EUA.
Um vídeo do momento do crime foi captado por celular
e enviado à CNN, que veiculo una televisão.
Dá para dizer, hoje, que a CNN tem o maior time de
repórteres do mundo.
Lucas Pretti
O Estado de S.Paulo
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