Repórter
obtém receita médica de maconha para 'ansiedade' na Califórnia
O consumo de maconha é proibido pelo governo federal
nos Estados Unidos, mas a erva pode ser receitada para uso
medicinal por pacientes sofrendo de doenças graves
no Estado da Califórnia.
Os benefícios da cannabis para doentes com câncer,
Aids, artrite, esclerose múltipla e outras condições
debilitantes são amplamente documentados. Segundo os
usuários, ela torna os sintomas mais suportáveis.
Estima-se que cerca de 250 mil californianos possuam receitas
que os autorizam a consumir o que se entende como "maconha
medicinal".
Mas não é preciso sofrer de doenças terminais
para conseguir uma receita. Depois de fazer uma busca no site
de pesquisas Google digitando as palavras "medicinal
marijuana" e "Los Angeles", obtive uma longa
lista de clínicas onde "pacientes qualificados"
podem obter uma recomendação médica autorizando-os
a usar maconha legalmente.
Uma das clínicas, o 420 Evaluation Centre, localizado
em San Fernando Valley, um subúrbio de Los Angeles,
oferecia um desconto de US$ 25 para novos pacientes. O termo
420 é uma gíria local para maconha.
Consulta
Marquei uma consulta. Ao chegar, paguei US$ 100 e
preenchi um questionário com dados pessoais. Em uma
seção do questionário, respondi perguntas
sobre minha condição.
De acordo com as regras, o paciente deve estar sofrendo de
doenças graves ou sentindo dor crônica para se
qualificar. O melhor que pude imaginar foi escrever que sofro
de ansiedade. Afinal, sou do tipo ansioso.
O médico, um vietnamita que se apresentou como doutor
Do, tomou meu pulso, mediu minha pressão sangüínea
e perguntou há quanto tempo eu me sentia ansioso. "Há
vários anos", respondi.
"Você sofre de ataques de pânico?",
perguntou o médico. "Não". Do escreveu
"ataques de pânico" em seu livro de anotações.
Depois de passarmos alguns minutos falando sobre a culinária
asiática, Do assinou uma receita para maconha medicinal,
válida por um ano.
Caverna de Aladim
Com mais de 200 farmácias de maconha medicinal
operando legalmente na região, os traficantes de rua
ficaram obsoletos.
O governo do Estado, por sua vez, está satisfeito,
já que sua fatia de impostos está garantida.
Ainda assim, com algumas farmácias instalando máquinas
automáticas para lidar com pacientes fora do horário
comercial, é difícil você não se
perguntar se a situação não estaria correndo
o risco de virar uma comédia.
A uma distância curta da clínica fica uma das
lojas preferidas dos usuários, votada "farmácia
do ano" por uma das revistas lidas pela comunidade de
maconheiros. A publicação mais famosa intitula-se
High Times.
A loja é uma verdadeira Caverna de Aladim dos narcóticos.
Sob o balcão de vidro, estavam dezenas de variedades
de cannabis em potes de plástico. Ao lado, um arsenal
de objetos usados no consumo, entre eles, cachimbos.
Fumar e tragar
As variedades tinham nomes exóticos, como
Sonho Azul e Devastação do Super Trem (em tradução
livre).
Para sintomas como ansiedade, o atendente recomendou uma
variedade conhecida como Travesseiro Púrpura. A receita
não estipulava quantidade.
"Quanto devo usar?", perguntei. Pego de surpresa,
o vendedor respondeu: "Acho que você poderia começar
tragando duas ou três vezes e ver o que acontece".
Eu não comprei a maconha e estou pensando em, um dia,
colocar minha receita em uma moldura e pendurá-la na
parede.
Nesse meio tempo, parafraseando (o ex-presidente americano)
Bill Clinton, se eu fumar, certamente não vou tragar.
BBC Brasil
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