HOME | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS

Envie sua opinião


GD- Jornalismo Comunitário

mais são paulo

Guia de banheiros ajuda paulistano a driblar aperto


Jornalismo Comunitário - Site GD

carta cbn

"Quero levantar a minha indignação quando você fala que tem empregos bons no Brasil. É mentira!"
Ivair Cypriano

"A educação avança a que custo."
Von Norden



 

 

capital humano
18/08/2005
Novas profissões

 

Pessoal: concernente ou peculiar a uma só pessoa; individual, particular. Personalizado: alterado segundo especificações fornecidas pelo usuário; feito segundo o gosto do freguês. "Personal": não consta nos dicionários da língua portuguesa, mas já entrou na vida de muita gente. Atende, por quantias variadas, às definições acima.

Seguido de uma especificação da atividade-fim (comer, malhar, dançar), "personal" virou sinônimo de algo situado entre profissão e serviço -conforme o ponto de vista de quem oferece o produto ou de quem usufrui dele.

Mas ninguém precisa recorrer ao dicionário para encontrar um "personal". "Hoje, eles são legião", diz o filósofo Mario Sergio Cortella, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Podem ser encontrados no seu quarto, arrumando suas roupas íntimas, na sua cozinha, organizando sua despensa, ou até na sua festa, dançando com uma amiga sua.

"Personal dancer" há cinco anos, o dançarino e coreógrafo Kaká Maia, 24, oferece mais do que as tradicionais aulas particulares. "A aluna quer sair para dançar, praticar o que aprendeu nas aulas e me contrata", diz. Quem busca o serviço não está necessariamente sem parceiro. "São pessoas que até têm ou conseguem parceiros. Mas é diferente, elas querem alguém que seja profissional", diz Kaká.

É a vida com certificado de qualidade. "Hoje, é preciso ser tudo perfeito, ninguém mais aceita ser imperfeito, você tem de ser o supra-sumo em tudo o que faz", acredita a psicanalista Suely Gevertz, da SBP-SP (Sociedade Brasileira de Psicanálise).

Não basta comer bem, por exemplo, é preciso ser gourmet. Se não há tempo para dedicar-se ao aprendizado das técnicas culinárias e descobrir os mistérios dos sabores, um "personal chef" resolve o problema. E o contratante não precisa nem estar presente. "Eu vou na casa da pessoa, crio cardápios, ensino a empregada a fazer, organizo o freezer, tudo", conta a "personal chef" Debora Cordeiro, 31.

A preocupação com a alimentação também abriu espaço para a "personal dieter", a profissional que vai até a casa dos clientes -muitas vezes, famílias inteiras- ensiná-los a comer. A nutricionista Madalenna Vallinoti, 41, além de reestruturar o cardápio da casa, ensina à empregada doméstica a forma de preparar os alimentos, faz a lista de compras e costuma acompanhar a primeira ida ao supermercado. A cada quinze dias, ela volta à casa do cliente para checar se tudo está sendo seguido à risca. Em famílias com crianças, é comum as mães pedirem à "personal dieter" que ensine seus filhos a comer de forma saudável. "Elas acham que é mais fácil eles ouvirem uma terceira pessoa do que a mãe", acredita Madalenna.

A busca de perfeição, ou de auto-superação, é inerente ao ser humano, que sempre quer cobrir seus limites. "Como o indivíduo não pode ter tudo dentro dele, procura no outro aquilo que lhe falta", diz Armando Colognese, professor de formação em psicanálise do Instituto Sapientae, de São Paulo.

E, a cada dia, surgem mais "lacunas" pessoais a serem preenchidas. "Hoje a informação circula em tal velocidade que as pessoas precisam de alguém para agilizar seu tempo, cada vez mais curto", diz o psicanalista.

O "personal qualquer coisa" atende a essa demanda. Para Cortella, ele corresponde a um terceirizado da vida cotidiana e segue a lógica do mercado. "Se o foco é na atividade-fim, é preciso liberar-se das atividades-meio. Isso chegou ao mundo das pessoas. Nesse, a finalidade última é aproveitar a vida." O tempo para isso é obtido delegando-se uma série de atividades cotidianas a prestadores de serviço. "Quem pode terceiriza o que considera chato na vida. Arrumar armário, por exemplo", diz Gevertz.

O artista plástico Gustavo Rosa, 58, é um dos que contratam um "personal" para resolver "aquelas coisas desagradáveis que a gente não tem tempo de fazer". Ele foi um dos primeiros clientes da Help Home, empresa criada em 1993 pela ex-executiva do mercado financeiro Laura Bortolai, 49.

Quando iniciou a prestação desses serviços, ela pensou na mulher que trabalhava fora o dia todo e não tinha tempo de ter uma vida organizada.Para sua surpresa, no entanto, começou a receber muitos clientes do sexo masculino. "São filhos de famílias ricas que vão morar sozinhos, homens separados que precisam receber os filhos no fim de semana ou preparar um jantar para a namorada. Alguns clientes me chamam só para arrumar mala ou para comprar presentes", conta Laura.

Compras
Pois mesmo para fazer compras, atividade raramente considerada chata, há um "personal". Thaiz Albiero, 27, "personal shopper" do L'Hotel, em São Paulo, não apenas leva hóspedes às lojas como também faz as compras por eles. "Se ele quer dar uma lembrança da viagem para o filho, ele me diz a idade e do que a criança gosta e eu vou procurar o presente nas lojas. Mostro o que comprei e, se ele gostar, faço um pacote lindo e ponho na mala."

Sem dúvida, é um serviço para poucos. O "personal", em geral, é um profissional que não cobra pouco. Para o sociólogo Ricardo Antunes, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a profissão surgiu por causa de mudanças profundas no mundo do trabalho que aumentaram o número de profissionais qualificados não absorvidos pelo mercado formal. A saída é procurar trabalho no espaço da vida privada, no qual "quem tem padrão socioeconômico para recorrer a esses serviços o faz", acredita Antunes.

Os preços seguem a lei da oferta e da procura. As áreas que são mais concorridas costumam ter um maior número de "personals" à disposição e, em conseqüência, uma faixa de preços mais elástica.

O "personal stylist" -profissional que cuida da aparência e da maneira de vestir das pessoas-, por exemplo, deixou de ser privilégio dos famosos. Como Ellen Baraldi, 21, que atende de profissionais liberais a crianças. "Uma mãe pediu que eu ensinasse sua filha de sete anos e seu filho de 11 a arrumar o armário. Eles eram muito consumistas, a menina não conseguia usar nada que não fosse conjunto. Mostrei que ela podia combinar peças compradas em lojas diferentes", conta.

Personal Zen
Para competir em áreas mais saturadas, a saída é oferecer serviços ainda mais exclusivos. É o caso do "personal zen". "Achei que estava faltando um profissional que usasse técnicas que promovem o bem-estar de forma individualizada", diz o "personal zen" Alexandre Von Ajs, 39, que presta esse serviço no Rio de Janeiro há 20 anos, mas usa o termo, que conheceu nos EUA, há dez.

No pacote oferecido por ele entram meditação, ioga, pilates, alongamento, massagem e tai chi chuan. "O "personal zen" tem de ter uma visão holística e estar munido de várias técnicas para combiná-las de acordo com o perfil do cliente", explica Alexandre.

Os clientes são, normalmente, pessoas de alto poder aquisitivo que vivem estressadas. O número de homens que procuram o atendimento personalizado é muito maior do que o dos que freqüentam as aulas comuns. "Eles costumam ser mais acomodados, têm menos flexibilidade e ficam envergonhados de ir a uma aula cheia de mulheres", afirma.

Da falta de tempo à vergonha de se expor em público, da falta de conhecimento em determinada área à vontade de se sentir único, "há serviço para tudo. E bem pago", diz o sociólogo Ricardo Antunes. Que a vida fica mais prática, não há dúvidas, mas há quem questione se fica melhor. "É a ética do pragmatismo, que confunde o que é prático com o que é certo", diz o filósofo Mario Sergio Cortella. Para resolver questões como essa, talvez até surja um novo profissional no mercado: o "personal filósofo".

FLÁVIA MANTOVANI
IARA BIDERMAN
da Folha de S. Paulo, editoria Equilíbrio

  

NOTÍCIAS ANteriores
17/08/2005 Alunos em situação de risco lutam boxe para acalmar em escola de Boa Vista
16/08/2005 SulAmérica monta sala de descompressão para funcionários
16/08/2005 Pesquisa revela fatores que influenciam tempo de desemprego
16/08/2005 Empresa contrata brasileiro em reality show
16/08/2005 83% dos profissionais acessam sites não relacionados ao trabalho
16/08/2005 Estudo mostra que 80% dos brasileiros querem trabalhar após a aposentadoria
15/08/2005 Idéias positivas em meio à crise
12/08/2005 Aprovação do governo Lula cai entre os menos letrados