As
sociedades médicas que tratam de ressuscitação,
medicina intensiva e cardiologia querem treinar 1% da população
adulta das grandes cidades para socorrer emergências.
Treinados, esses leigos teriam condições de
"manter" a vítima até a chegada da
ambulância. Hoje, em média, a chegada de socorro
especializado nos grandes centros pode demorar entre 20 e
30 minutos. Com a implantação dos Samu (Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência), esse tempo
deve ser reduzido a 10 minutos ou menos.
Em outra frente, a Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado
de São Paulo) está treinando profissionais que
trabalham dentro dos hospitais, desde médicos até
diretores e porteiros. É nos hospitais que ocorre o
maior número de eventos de urgência.
O treinamento para leigos, programa batizado de "Tempo
é Vida", foi lançado em encontros sobre
ressuscitação e emergências cardiovasculares
ocorridos há duas semanas em Curitiba. Cerca de 300
pessoas foram treinadas.
Segundo estatísticas, 50% das vítimas de parada
cardíaca morrem se não forem socorridas em cinco
minutos. Cerca de 80% das paradas são provocadas pela
fibrilação ventricular, quando o coração
passa a bater de forma rápida e desordenada.
Um projeto de lei no Congresso Nacional
prevê a instalação de disfibriladores
automáticos em lugares de grande movimento de pessoas
e que podem ser manuseados por leigos treinados.
A principal causa de morte é
o infarto agudo do miocárdio, seguido do derrame. Se
as vítimas de infarto do miocárdio chegarem
ao hospital em até 12 horas e as do derrame, em até
6, terão chances de sobreviver com melhor qualidade
de vida.
O problema, dizem os médicos,
é que nem sempre o início do infarto ou do derrame
é percebido, daí a necessidade de treinamento.
"Cerca de 50% das vítimas
de infarto morrem antes de chegar ao hospital, o que é
uma grande frustração para nós, pois
só podemos agir e tentar salvar metade dos casos",
diz Otávio Rizzi Coelho, presidente da Socesp.
Abaixo, trechos da entrevista concedida
por Rizzi Coelho.
Folha - Qual a importância do tempo quando
se trata de um evento cardiológico?
Otávio Rizzi Coelho - Nós costumamos
dizer que tempo é músculo. Quanto maior a demora,
mais músculo do coração é perdido.
Por isso, ao notar qualquer sintoma de infarto, chame socorro
médico. O infarto do miocárdio é um coágulo
que penetra na coronária e que precisa ser dissolvido,
seja com medicamento, seja com cateterismo. A rapidez nesse
procedimento é fundamental.
Folha - A Socesp está treinando pessoas dentro
dos hospitais. Qual é a intenção da sociedade?
Coelho - A idéia é preparar todos os
profissionais, pois o hospital é o lugar onde as complicações
mais ocorrem. São três projetos. O primeiro é
o suporte cardíaco avançado, destinado aos médicos.
Todos precisam conhecer os procedimentos mais avançados.
O segundo é o suporte básico cardíaco,
para pessoas que trabalham na área de saúde
dentro do hospital. Esse grupo inclui do diretor, ao enfermeiro
e ao porteiro.
Folha - E o terceiro?
Coelho - É destinado aos leigos, brigadas que
estarão a postos em locais de grande concentração
de pessoas, como aeroportos, campos de futebol, estações
de metrô e shopping centers. Quanto maior o número
de pessoas, maior a possibilidade ocorrer um evento cardíaco.
Essas brigadas, treinadas, devem contar com um disfibrilador
automático a menos de cinco minutos de distância.
E com sistema de alarme para acionar imediatamente socorro
especializado, como o Resgate ou o Samu.
Folha - E como agir com as populações
de risco, como os idosos?
Coelho - Pessoas que convivem com idosos devem ser
treinadas. Nos EUA, onde há condomínios de idosos,
uma pessoa treinada pode ajudar dezenas. Mas é difícil
treinar um leigo para cada idoso. Os americanos adotaram a
prática de treinar também adolescentes e crianças,
que mais tempo permanecem em casa, de forma que possam chamar
socorro médico pelo telefone.
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo
|