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Cidade
ainda tem um déficit de 110mil vagas nas crechese de
46mil na pré-escola. Leis ancionada em junho obriga
municípios a garantir vagas para alunos de 4 e 5 anos
já em 2009. Reforço escolar de 1.ª a 4.ª
série é apontado como positivo. Pré-escola
de qualidade tem efeito no desenvolvimento dos jovens no futuro
A capital precisa enfrentar um déficit de 110 mil vagas
nas creches e de 46 mil na pré-escola. No ensino fundamental,
outra responsabilidade da prefeitura: reverter o quadro que
mostra 1 em cada 10 alunos fora da sala de aula por evasão
ou em situação de defasagem (sua idade é
muito superior à faixa etária dos alunos da
série). Mais importante, o futuro das crianças
matriculadas nas escolas municipais depende de um salto de
qualidade na educação. É a opinião
de especialistas ouvidos pelo Estado sobre os desafios do
próximo prefeito de São Paulo.
A falta de creches provoca problemas em cadeia, como adolescentes
que deixam a escola para cuidar dos irmãos mais novos.
O acesso de crianças de 0 a 3 anos à educação
infantil está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB). “As creches são fundamentais
para o crescimento porque, em tese, as crianças se
alimentam melhor e socializam com outras. Se ambos os pais
trabalham, a renda familiar é maior, o que aumenta
o acesso à alimentação e saúde”,
diz a promotora da Infância e Juventude Carmen Lúcia
Pantaleão de Mello Cornacchioni.
A falta de atenção nos primeiros anos de vida
compromete o futuro das crianças. “Há
evidências da importância da qualidade nas creches.
O prêmio Nobel de economia James Heckman mostrou que
a pré-escola de qualidade diminui a chance de um adulto
cometer crimes e usar drogas, entre outros efeitos efeitos
positivos na saúde e no desenvolvimento”, diz
o cientista político Leandro Piquet, da Universidade
de São Paulo (USP).
Nessa gestão, as matrículas em creches subiram
de 62 mil para 105 mil, principalmente, por meio de convênios
com organizações não-governamentais (ONGs).
O conselheiro relator do Tribunal de Contas do Município
(TCM) Maurício Faria, porém, apontou defasagem
no ensino dado pelas conveniadas. Para eliminar o déficit
e aumentar o turno de 75% das crianças que ainda ficam
apenas quatro horas nas creches seria preciso construir 600
unidades.
Na pré-escola, 14 Escolas Municipais de Educação
Infantil (Emeis) estão em construção,
o que reduzirá o déficit em apenas 20%. A Lei
11.700, sancionada em junho, obriga municípios a garantir
vagas para alunos de 4 e 5 anos já em2009. No ensino
fundamental, a LDB reforça a obrigação
constitucional de atender a toda a demanda. “Mas essa
demanda ainda é atendida em salas cheias e com o terceiro
turno diurno”, diz Denise Carreira, coordenadora do
programa de pesquisa e monitoramento de políticas educacionais
da Ação Educativa. Ela faz parte do grupo de
trabalho de educação do Movimento Nossa São
Paulo. A média varia entre 36 e 38 alunos por sala
– deveriam ser 35.
“Se a sala de aula é lotada, o turno é
curto, o que impede o envolvimento do aluno com a escola;
se a qualidade dos professores é ruim, é muito
mais provável que a criança deixe de estudar”,
afirma Ilona Becskehazy, diretora-executiva da Fundação
Lemann. Pelo menos 30% das Escolas Municipais de Ensino Fundamental
(Emefs) ainda têm três turnos diurnos (7h às
11h, 11h às 15h e 15h às 19h). Comisso, 64.369
alunos terão dois anos a menos de estudo ao final da
8ªsérie. Mas a Secretaria Municipal de Educação
garante que as 73 Emefs em construção resolverão
o problema.
A qualidade do ensino, porém, é o que mais preocupa
os especialistas. “Quando analisamos a reprovação
da rede municipal, observamos que a promoção
automática tende a ‘camuflar’ dados. O
índices são menores nas primeiras séries,
mas se acumulam no final do ciclo, quando não se pode
reprovar. Varia de 1,4% a 2% até a 3ª série,
mas na 4ª série sobe para 12%. Isso se reflete
na defasagem, de 2,7% na 1ª série, 16% na 4ª
série e 21%na8ªsérie”,diz a diretora
executiva do Instituto Ayrton Senna, Margareth Goldenberg.
Isso significa que os alunos são aprovados sem aprender.
Ilona, da Fundação Lemann, destaca programas
positivos da rede municipal, como o Ler e Escrever (reforço
escolar de 1ª a 4ª série), mas, na média,
considera a educação municipal “ruim”.
“O currículo básico precisa ter diretrizes
mais claras”, avalia. No Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica (Ideb), divulgado
pelo Ministério da Educação em agosto,
São Paulo obteve conceito 4,5 – abaixo da média
6, que o País tem como meta para 2022. O índice
é composto por dados da Prova Brasil, feita por alunos
de 4ª e 8ª séries do ensino fundamental,
e os resultados de evasão escolar e aprovação.
Pela Prova São Paulo, da Secretaria Municipal de Educação,
80% dos estudantes da rede chegam à 2ª série
alfabetizados. Mas, nas séries seguintes, o desempenho
cai: na 4ª série, 17% deles não alcançaram
conhecimentos mínimos de português e 44% não
conseguiram fazer a redação. Apenas 11% tiveram
conceito bom. Em matemática, o desempenho é
semelhante: na média, estudantes da 2ª série
foram capazes de adições e subtrações
simples, mas poucos conseguem ir além. Na 4ª série,
apenas 17% solucionam problemas com mais de uma operação.
Adriana Caranca
O Estado de S.Paulo
Candidatos
à prefeitura apresentam propostas
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