Capital paulista ficou em 21º lugar entre 26 capitais
(Brasília não foi incluída) em português
e em 20º em matemática
Avaliação foi feita em 2005 pelo Ministério
da Educação; para especialistas, resultado é
reflexo da formação deficitária dos professores
A quarta série da rede de ensino da Prefeitura de São
Paulo está entre as sete piores do país, quando
comparada com a das demais capitais do Brasil. O desempenho
foi avaliado no fim de 2005 pela Prova Brasil, realizada pelo
Ministério da Educação, e mostra o município
em 21º lugar entre 26 capitais (Brasília não
foi incluída) em português e em 20º em matemática.
O resultado só foi divulgado no final de junho, mas
apenas com os dados específicos de cada escola. O ranking
geral foi feito pela Folha.
Com média 160,42 na primeira disciplina e 166,86 na
segunda, os alunos das escolas municipais não alcançaram
nem a metade do total de pontos possíveis nas provas,
que é de 350. Eles ainda ficaram 12 pontos abaixo da
média nacional em língua portuguesa e 13 pontos
abaixo em matemática.
A diferença da rede municipal de São Paulo para
a de Campo Grande, primeira colocada em português, é
de 31 pontos e, para Curitiba, que encabeça o ranking
de matemática, é de 28. Mas, na oitava série,
São Paulo ganha posições e passa para
a 12ª colocação em ambas as disciplinas.
O secretário municipal da Educação, Alexandre
Schneider, afirma não ter se surpreendido com os resultados.
"Esperava por esse desempenho porque já tínhamos
detectado problemas na rede. Ele é fruto de anos de
gestão que confundia educação com ação
social", afirma. "As escolas se tornaram pontos
de distribuição de projetos sociais que vão
desde uniforme até renda mínima e acabaram sobrecarregadas.
O corpo docente deixou de ter como única obrigação
o desenvolvimento do programa pedagógico, que deve
ser o foco principal da educação."
O secretário afirma que as escolas precisam voltar
o foco para o ensino e conta que já há um grupo
de estudos em parceria com a Secretaria de Gestão para
resolver como ficará a distribuição dos
projetos sociais e, assim, liberar diretores de escola dessas
obrigações. Ele ressalta, no entanto, que todos
os benefícios serão mantidos.
Formação dos professores
Ana Rosa Abreu, que coordenou os Parâmetros Curriculares
Nacionais e faz parte do Instituto Sangari (ONG com foco na
educação básica), acredita que a sobrecarga
no corpo docente influencia a má qualidade do ensino
municipal em São Paulo, mas, para ela, o principal
problema está na formação dos professores.
"A rede da capital é hoje uma rede desgastada.
Foram feitas muitas capacitações, muitas delas
com projetos excelentes, mas todas de maneira desarticulada",
diz. "O professor não consegue aplicar o que aprende
na sala de aula. Temos um shopping de projetos de formação
sem nenhum impacto na prática."
Lisandre Maria Castelo Branco, da Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo, concorda que o problema
está na formação do professor, que, segundo
ela, " não foi formado para ter uma preocupação
em compreender a realidade dos alunos que o cercam nem para
entender -e, assim, explicar- os motivos de ensinar determinadas
matérias".
Para Lisandre, o resultado ajuda a desmontar o mito de que
tudo é melhor em São Paulo. "É ilusão
achar que nas grandes metrópoles estão as melhores
oportunidades de trabalho, de ensino ou do que for. A vida
para quem não tem dinheiro aqui é brutal."
Já a presidente da União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação, Maria do Pilar Lacerda,
também secretária municipal de Educação
de Belo Horizonte, diz que é impossível comparar
as redes porque as condições do país
são muito diferentes. "Temos de analisar as dificuldades
de cada cidade. As avaliações servem para cada
sistema refletir sobre seus erros e melhorar."
Veja o ranking completo das capitais www.folha.com.br/061883
Daniela Tófoli
As informações são da Folha de
S.Paulo.
Resultado
da Prova Brasil deixa São Paulo em ranking da vergonha em
educação
Prova
Brasil não destaca nenhuma escola da capital Paulistana
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