A partir do ano que vem, 260 mil dos 548 mil estudantes do
ensino fundamental da Prefeitura de São Paulo vão
ficar uma hora a mais na escola todo dia. A grade curricular
obrigatória passará de quatro para cinco horas,
o que, ao fim de oito anos, será o equivalente a dois
anos a mais de escolaridade. Até 2008, a ampliação
deverá atingir todos os estudantes.
Para aumentar as aulas em 208 escolas de ensino fundamental,
das 459 existentes hoje, a secretaria municipal da Educação
vai acabar com o terceiro turno --no qual os alunos têm
aulas entre as 11h e as 15h-- de mais 58 colégios (hoje,
309 funcionam em três).
A mudança só será possível, segundo
a prefeitura, por meio de quatro medidas: construção
de novas salas (além de cinco novos CEUs, a secretaria
promete entregar a ampliação de 93 escolas até
o começo de 2007), parceria com a rede estadual para
distribuição dos alunos, uso de salas utilizadas
em projetos diversos (como salas de artes) e formação
de classes com no máximo 40 alunos, com exceção
das séries iniciais.
As duas últimas medidas são criticadas. Para
Marisa Melillo Meira, professora de psicologia escolar da
Unesp, acabar com salas de artes é uma atitude equivocada.
"A escola e os alunos saem perdendo. Eles precisam de
um espaço para atividades artísticas, porque
a sala normal não é adequada para todas as aulas."
Professora de políticas públicas de educação
da PUC-SP, Maria Ângela Barbato Carneiro é contra
o aumento do número de alunos. A média atual
é de 35 estudantes por turma. "Ter 40 alunos é
muito, nenhum professor dá conta. Não adianta
só garantir a permanência do aluno na escola,
tem de garantir o bom ensino."
Ela lembra que o aumento dos dias letivos de 180 para 200
não melhorou a qualidade da educação.
"Não adianta aumentar a carga horária sem
um trabalho com os professores. O período de aulas
poderá ficar ainda mais enfadonho."
Outra ponderação é a de que as horas
extras deveriam ser utilizadas para aulas de português
e matemática, já que as últimas avaliações
nacionais apontam um fraco desempenho nessas disciplinas.
O projeto prevê que a carga horária seja preenchida
com aulas nas salas de leitura e de informática.
"Os alunos precisam de mais tempo para absorver os conteúdos
dessas matérias, de uma forma mais leve. Seria melhor
do que ficar dando aula de informática", diz o
vereador Beto Custódio (PT), professor e integrante
da comissão de Educação da Câmara
Municipal. "Essas medidas são eleitoreiras."
O secretário municipal da Educação,
Alexandre Schneider, diz que a grade poderá ser preenchida
também com aulas de reforço. "Além
disso, o projeto Ler e Escrever será ampliado para
todas as séries."
Ele diz que as classes não ficarão superlotadas
e que as atividades de artes continuarão. "Mas
muitas salas para projetos diversos estavam subutilizadas."
As oficinas culturais e esportivas, que hoje funcionam no
horário oposto ao das aulas, também serão
mantidas.
O secretário diz que a partir de 2007 todas as crianças
farão as atividades de leitura e informática
e estarão sempre com a sua turma. Hoje, alunos de diferentes
séries ficam misturados, e só participa da atividade
quem pode ir e voltar para a escola, pois elas ocorrem no
período oposto ao das aulas.
As mudanças serão anunciadas pelo prefeito
Gilberto Kassab (PFL) nos próximos dias e foram antecipadas
à Folha. "A nossa prioridade zero é a educação,
e é um absurdo que uma cidade que quer priorizar essa
área tenha escolas com três turnos."
Daniela Tófoli
Folha de S.Paulo
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