Minhocão no chão, por R$ 80 milhões
Desmontar o Minhocão, como está em estudo pela Prefeitura,
custa R$ 80 milhões e demora seis meses. Mas as cerca de mil
vigas do elevado podem ser reaproveitadas (ou vendidas). Valem
R$ 50 milhões. O gasto, portanto, seria de R$ 30 milhões.
O que R$ 30 milhões representam, em obras públicas? O túnel
sob a Avenida Faria Lima, feito no ano passado, custou R$
97,4 milhões. O Fura-Fila, iniciado em 1998, está longe de
ser concluído e já levou R$ 320 milhões. Um quilômetro da
Linha 4-Amarela do metrô (Luz-Vila Sônia) custará R$ 266 milhões.
Estão em estudos na Empresa Municipal de Urbanização (Emurb)
pelo menos dois projetos que prevêem o desmonte do Minhocão.
E outros com paliativos para amenizar problemas como a poluição
sonora. O prefeito José Serra (PSDB) espera conclusões das
áreas técnicas para tomar uma decisão.
Os cálculos sobre o desmonte do Minhocão foram feitos pelo
engenheiro Carlos Miller, sócio da Planservice, empresa especializada
no gerenciamento de obras de grande volume e construção rápida
(hipermercados, por exemplo). Não são cálculos exatos, representam
uma estimativa.
Tabuleiro
O trabalho começaria pela demolição do tabuleiro. É a parte
que está sob o asfalto das pistas (duas, com quatro faixas
no total). Foi construída com concreto e ferro, em cima das
vigas.
Depois se retiram as vigas, que têm 80 centímetros de largura
e de 25 a 30 metros de comprimento. Para esse trabalho, são
necessários dois guindastes que suportam 100 toneladas (o
aluguel de cada um custa R$ 10 mil por dia).
Por último, demolem-se as colunas onde estavam assentadas
as vigas. Os cálculos de Miller incluem o custo de transporte
do entulho a uma distância de 20 quilômetros.
Interferências
Mas não é assim tão fácil. Antes de entrarem as máquinas,
é necessário remover as interferências. Cabos de energia,
telefone, entre outras. Será preciso transferi-los para outro
ponto, ou torná-los subterrâneos.
Autor de uma das propostas de demolição do Minhocão, Michel
Gorski prevê um movimento paralelo de demolição. "Um amigo
me telefonou e disse que vai levar um pedaço do Minhocão para
casa, como lembrança. Assim como fizeram com o Muro de Berlim."
VALDIR SANCHES
do O Estado de S.Paulo
Desmonte pode ser em partes, começando pela São João
Marisa Folgato
A Emurb está fazendo estudos de viabilidade econômica das
propostas que já recebeu para demolir o Minhocão ou reduzir
a poluição sonora. "Precisamos, antes de tudo, avaliar a origem
e o destino das viagens no elevado", afirmou a urbanista Regina
Monteiro, diretora de Meio Ambiente e Paisagismo Urbano da
Emurb. Ela disse que, a princípio, a proposta de derrubar
o Minhocão e fazer túneis em seu lugar - com cobrança de pedágio
para financiar a obra, estimada em R$ 1 bilhão - é difícil
de ser concretizada.
Na opinião de Regina, o elevado poderia ser desativado em
partes, apostando na capacidade de as ruas do entorno absorverem
o trânsito extra. O primeira trecho, para ela, poderia ser
o que corre por cima da Avenida São João até a Francisco Matarazzo.
"Já teria um impacto bom e as paralelas da avenida são ociosas
nesse trecho."
A proposta incluiria a instalação de um semáforo na altura
da Rua do Arouche. "A retirada desse pedaço ajudaria a recuperar
o Largo do Arouche, a região de Santa Cecília e a Praça Marechal
Deodoro."
Além da proposta dos túneis, foi apresentada uma de desmonte
e uso das vigas em pontes e passarelas em outros pontos da
cidade, mas sem alternativa para absorver o aumento de veículos
nas vias sob o Minhocão. A terceira idéia é fazer paredões
laterais para reduzir o barulho.
MARISA FOLGATO
do O Estado de S.Paulo.
|