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Faltando
pouco mais de um mês para o fim do mandato, a atual
equipe que comanda a Prefeitura de São Paulo sob a
batuta de Marta Suplicy (PT) lembra aqueles times de futebol
que já estão fora da disputa pelo título
do campeonato e não demonstram muita disposição
em campo nas últimas rodadas. Fornecedores, prestadores
de serviço e, principalmente, a população
sofrem com essa apatia da Prefeitura, que em nada lembra os
meses anteriores às eleições de 3 de
outubro, quando máquinas e operários passavam
dias e noites finalizando túneis, canteiros e prédios.
Serviços básicos como os de varrição
e vigilância, manutenção de creches e
escolas, além de trabalhos para prevenção
de enchentes e obras de calçadas e edifícios
foram paralisados ou são tocados em ritmo lento.
O motivo é a falta de verba. A Prefeitura tem gastos
maiores do que suas receitas e, segundo estimativa de especialistas,
pode encerrar o ano com um rombo de R$ 1,2 bilhão,
o que colocaria a prefeita Marta na mira das Leis de Responsabilidade
Fiscal e de Crimes Fiscais. Se condenada, poderia perder seus
direitos políticos e até ser presa. "Terminadas
as eleições, as obras se estancaram por conta
da falta de dinheiro, que aparentemente era abundante",
disse o vereador Roberto Trípoli (PSDB).
O diretor do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura
e Engenharia Consultiva (Sinaenco), Antônio Rolim, vai
mais longe e acusa a Prefeitura de, nos últimos três
meses, usar truques contábeis para que não haja
sinais de atraso nos pagamentos. Cerca de 30 empresas do sindicato
prestam serviços ao Município e amargam atrasos
médios de 60 dias. A estratégia é não
enviar o pedido de liberação (PL) para o pagamento
do serviço à Secretaria das Finanças,
para que não apareça como dívida da Prefeitura.
Dessa maneira, apesar de o atraso real existir, não
consta da contabilidade.
Na tentativa de reduzir o problema contábil, a atual
gestão vem cortando custos de onde pode. E os serviços
terceirizados estão no topo desta lista.
Por exemplo: os piscinões, reservatórios de
água apontados como a maior esperança de reduzir
o número de enchentes na cidade, sofrem com a falta
de manutenção. Visitados ontem pelo Estado,
os Piscinões do Bananal e Guaraú, na zona norte,
mais pareciam depósitos de lixo. Em plena temporada
de chuvas, a população desses locais espera
por providências da Prefeitura e teme por novas enchentes.
Na Vila Nova Cachoeirinha, o Piscinão Guaraú,
em funcionamento desde 2002, ganhou o apelido de Pinicão.
"Morar perto do piscinão virou referência
ruim", disse o operador de telemarketing Rodrigo Moraes.
Os serviços de varrição e zeladoria das
subprefeituras (capinagem, pintura de postes e calçadas,
entre outros) também sofreram mudanças que chegaram
a diminuir pela metade o número de equipes trabalhando
nas ruas. Segundo a Prefeitura, trata-se de uma readequação
dos contratos. Para empresas e trabalhadores, é redução
mesmo.
Pela Metade
Empresas de limpeza consultadas pelo Estado confirmaram,
pedindo anonimato, que houve redução de até
50% nos serviços.
Nas subprefeituras, um dos serviços com maior redução
de atividade foi o de tapa-buraco. Segundo o coordenador de
uma unidade da zona sul, a causa é uma só: falta
de dinheiro. "Na nossa subprefeitura, é onde mais
temos dificuldades", contou.
Uma mostra de que a Prefeitura jogou a toalha após
as eleições é o Mercado Municipal, um
dos xodós da prefeita que foi mostrado em horário
nobre em comerciais de televisão no período
eleitoral. O local foi inaugurado no dia 26 de agosto, apesar
de sua reforma não estar concluída. O mezanino
que abrigaria lanchonetes e restaurantes permanece vazio.
E assim deve ficar até o próximo prefeito, José
Serra, decidir o que será feito. Alguns banheiros também
ficaram para depois.
Também a Avenida Rebouças (e Eusébio
Matoso) não teve obras concluídas. As calçadas
foram destruídas para a construção do
túnel e corredores do Passa-Rápido e ainda não
foram refeitas. "Visualmente, não mudou nada na
obra. Está tudo num ritmo muito lento", disse
ontem a presidente da Associação Rebouças
Viva, Fernanda Bandeira de Mello.
A moradora Neuza Collaço, por sua vez, disse que não
se vê nenhum movimento de obra, com operários
e equipamentos no lugar. "Parece que a gente está
fazendo um rally a pé quando anda por aqui", reclamou.
No início do atual mandato, a Prefeitura anunciou que
construiria dois hospitais até o fim deste ano. Nos
orçamentos estavam previstos os Hospitais do M'Boi
Mirim, na zona sul, e o de Cidade Tiradentes, na zona leste.
O primeiro começou a sair do papel no segundo semestre
do ano. O segundo caminha a passos lentos.
A conclusão do prolongamento da Avenida Radial Leste
também está na lista dos inaugurados, mas incompletos.
O Paulistão (antigo Fura-Fila), vai ficar para a próxima
gestão. Este ano deve terminar com R$ 78,8 milhões
investidos no projeto, cujo primeiro trecho, de 3 quilômetros,
está prometido para janeiro. Marta tinha decidido suspender
as obras do Paulistão. Pouco antes das eleições,
anunciou que as retomaria.
Em dificuldades financeiras, a Companhia de Engenharia de
Tráfego (CET) suspendeu na semana passada o contrato
com a empresa que faz a remoção de veículos.
Deixaram de circular 50 guinchos e desde então o trabalho
passou a ser feito exclusivamente pelos 15 veículos
próprios da CET.
As notícias de interrupção ou atraso
nos pagamentos começou a deixar até fornecedores
que continuam recebendo em dia de cabelo em pé. É
o caso das empresas que gerenciam radares na cidade. Entre
elas, o clima é de preocupação. Já
perto do fim do mês, a autorização para
liberação de recursos para o pagamento de novembro
não saiu.
IURI PITTA, BRUNO PAES MANSO,
BÁRBARA SOUZA, AMANDA ROMANELLI,
SILVIA AMORIM e MOACIR ASSUNÇÃO
do jornal O Estado de S.Paulo
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