Os problemas
nas bocas-de-lobo de um trecho da avenida Rebouças
(zona oeste), agravados por obras inacabadas ao longo da via,
fizeram com que um grande volume de água entrasse no
túnel Jornalista Fernando Vieira de Mello e contribuísse
para que ele alagasse sábado à noite, menos
de três meses após a inauguração
da obra por Marta Suplicy (PT).
A constatação é da Emurb (Empresa Municipal
de Urbanização), segundo a qual as galerias
pluviais da avenida, entre a alameda Santos e a avenida Pedroso
de Moraes, "não funcionaram a plena carga, em
virtude de obstruções em parte das captações
de água".
A Emurb avalia que essas obstruções nas bocas-de-lobo
seriam resultado "especialmente" das obras de enterramento
da fiação aérea e de calçamento,
que deverão ser concluídas só no final
de dezembro. Os detritos, equipamentos e materiais que estão
na via teriam bloqueado os bueiros.
Mesmo antes do fim dessas intervenções, a fiscalização
contra carros que invadirem a faixa exclusiva de ônibus
da via -inaugurado junto com a passagem subterrânea-
começa amanhã.
Em nota à imprensa, a Emurb tenta isentar da responsabilidade
pelo alagamento as obras já entregues do túnel
sob a avenida Brigadeiro Faria Lima, que custou R$ 97,4 milhões.
Procura sinalizar que se trata de um problema temporário
-diagnóstico que enfrenta a desconfiança de
técnicos.
Segundo a empresa municipal, no trecho onde foi construída
a passagem subterrânea, os sistemas de drenagem foram
refeitos, tiveram sua capacidade aumentada, e as captações
funcionaram.
A Emurb também afirmou que as três bombas instaladas
no túnel "trabalharam normalmente" -deixando
de impedir a concentração de água em
razão do grande volume que fluiu pela pista.
Ela diz que também avalia "até que ponto
a reversão do rio Pinheiros [a cargo do governo do
Estado] não implicou maior elevação do
nível do rio e conseqüente agravamento do fluxo
de águas pluviais para a região da avenida Eusébio
Matoso".
Ontem, os dois sentidos do túnel da Rebouças
tinham goteiras que deixavam a pista molhada.
A obra foi uma das mais polêmicas de Marta. Além
das interdições viárias, teve seu custo
elevado em 49% sob a alegação de dificuldades
técnicas imprevistas.
A alta do custo coincidiu com a redução de
sua duração. O prazo contratual para terminá-la
acabaria em meados de 2005, mas ela foi entregue pela construtora
Queiroz Galvão em setembro passado, às vésperas
das eleições.
A explicação da Emurb como ao menos uma das
razões do alagamento de sábado já era
cogitada por especialistas ouvidos pela Folha. Eles acrescentavam
outras hipóteses, talvez simultâneas.
Teoricamente, pode ter havido um erro de projeto, de execução
do projeto (sendo feito em desacordo com a idéia projetada
inicialmente) ou principalmente nas bombas para a retirada
de água (cuja capacidade teria sido subestimada na
contratação).
"Foi um projeto eleitoreiro, feito e executado rapidamente.
A engenharia não pode confiar em são Pedro",
criticava Sergio Costa, do Instituto de Engenharia.
"O acúmulo de detritos nas bocas-de-lobo deixa
a água sem escoar e pode travar as bombas. Há
necessidade de manutenção e não só
de obras", afirmava Roberto Amá, do Sinaenco (Sindicato
Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva).
ALENCAR IZIDORO
da Folha de S.Paulo
|