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13/06/2007
Carta da semana
Democracia da praça
“Sou freqüentadora de uma pracinha aqui do Jardim
das Bandeiras, a praça Horácio Sabino. Fica
ali entre a João Moura, a Heitor Penteado e a Amália
de Noronha. A praça é enorme (ocupa o equivalente
a dois quarteirões), na verdade, e sempre foi deliciosamente
democrática: há espaço para corredores
e/ou caminhadores matinais, um tanque de areia com alguns
(poucos e malconservados) brinquedos para as crianças,
lugar para os cachorros e seus donos, para os alunos de uma
escola estadual, o Alves Cruz, matarem aula e namorarem etc.
Levo meu filho, Félix, hoje
com 4 anos, desde que tinha 40 dias para passear e brincar
na praça e lá, ele já fez seus melhores
amigos. Muitos deles foram juntos para a mesma escola, a Alecrim
(também ali, na Amália de Noronha), que, por
sua vez, também usa o espaço da praça,
vez por outra. A praça, a escola perto da praça,
a padaria Letícia que fica por ali, tudo isso confere
um ar de bairro, uma sociabilidade daquelas que parece ter
sido perdida para sempre em São Paulo.
Eu disse que a praça sempre
foi democrática; pelo jeito, não será
mais tanto assim. Recentemente, coisa de uma semana no máximo,
a rua que era usada pelos skatistas recebeu uma série
de faixas de paralelepípedos que impedem de descê-la
de skate. Muito bem, não fiz a lição
de casa de jornalista: não sei se foi a prefeitura
atendendo a um pedido dos moradores, não sei foi por
questões de trânsito. Sei que, como freqüentadora
da praça e vizinha de bairro, sinto falta dos skatistas.
Eram garotos e garotas, mais garotos
que garotas, adolescentes e jovens, em sua maioria, provavelmente
estudantes do Alves Cruz, que ficavam por lá descendo
a rua em manobras mais ou menos arriscadas, conversando e
namorando. Repito, não sei quem fez nem os motivos,
mas me soa estranho e ruim que, de todos os grupos que utilizam
a praça, resolvam excluir justamente os jovens e adolescentes
mais pobres. Os outros jovens que freqüentam a praça
estão aprendendo a dirigir (várias auto-escolas
usam a praça para aulas) ou são donos de cachorros
tratados como crianças ricas (já vi ali uma
festa de aniversário, com bolo e tudo).
É claro que já vi algumas
pessoas bebendo no final da tarde, nunca vi ninguém
fumando um baseado, mas obviamente não duvido que isso
aconteça. Posso imaginar também que haja zona,
bagunça, talvez em horários impróprios,
e, mesmo, que possa ter ocorrido algum episódio de
violência.
Mas, não acho que excluir
a possibilidade de andar de skate seja a única alternativa
capaz de resolver essas ameaças reais ou imaginárias.
Pode até ter o efeito contrário do que esperado.
O tédio pode ser mau conselheiro: perdendo a rua para
andar de skate, o que farão esses meninos e meninas?”
Bia Abramo -
biabramo.tv@uol.com.br
***
"Queria sugerir que tome conhecimento da aberração
que acontece neste momento na praça Horácio
Sabino. A Prefeitura está gastando uma dinheirama para
construir obstáculos visando impedir a prática
do skate."
Ari - araujohilda@hotmail.com
***
“Li com alegria
a carta da Bia Abramo sobre a Praça Horácio
Sabino que você publicou. Sou moradora do Jardim das
Bandeiras e adorava ver esse pedaço do bairro sendo
utilizado pelos jovens do Colégio Alves Cruz. Sentia
uma sensação de aconchego muito grande ao saber
que em São Paulo ainda era possível experimentar
esse sentimento democrático, essa certeza de que a
praça é do povo como o céu é do
avião.
Ao caminhar até a padaria
ali do lado onde costumo tomar café da manhã
com meu filho e meu marido, fazíamos questão
de dar uma parada pra ver a meninada desfrutando daquela ladeira
tão perfeita pra descer de skate (perfeita pela inclinação,
perfeita pelo tamanho, perfeita pela ausência de trânsito).
Que sensação boa saber que não éramos
só nós, os moradores privilegiadíssimos
dessas redondezas, que podíamos desfrutar de um lugar
tão agradável. Lamento que, daqui pra frente,
não possa mais encontrar aqueles jovens andando de
skate e comendo amora do pé que fica bem ali no ponto
em que eles se lançavam ladeira abaixo. Lamento que
agora ficaremos com a praça só nós, os
privilegiados moradores dos Jardim das Bandeiras, nossos filhos
e nossos cachorros.”
Luli Penna
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