Ao acordar,
suspeitou que a idéia de vender CDs numa máquina
talvez não fosse uma maluquice onírica
Lançada neste mês, uma máquina de venda
de CDs com baixo custo para dar mais dinheiro ao músico
e combater a pirataria nasceu de um sonho -literalmente.
Autor de composições cantadas por Ivete Sangalo,
Lenine e Daniela Mercury, o violonista e percussionista Fefê
Gurman finalizava, no ano passado, gravações
de suas próprias músicas, mas o meio de distribuir
o CD o angustiava. "Sonhei que meus CDs estavam dentro
de uma dessas máquinas automáticas de vender
salgadinhos e refrigerantes."
Ao acordar, suspeitou que talvez a idéia não
fosse uma maluquice onírica e contou o sonho a alguns
de seus colegas da Eletrocooperativa,
uma entidade que dá cursos gratuitos de produção
musical para jovens -o programa nasceu em Salvador, mas agora
tem um núcleo em São Paulo. "Ninguém
achou que a máquina fosse inviável."
Paulistano, Fefê passou sete anos em Salvador. Apesar
de ter emplacado uma série de músicas com cantores
de sucesso, ele voltou para a cidade convencido de que não
conseguiria viver apenas como artista e, para sobreviver,
além de começar a dar aulas, abriu uma pizzaria.
"É aqui que as coisas, de fato, acontecem",
justifica Fefê, ao explicar por que abandonou a paisagem
do mar.
Não imaginava que "acontecer" nas artes significaria,
para ele, ser dono de pizzaria e, mais estranho ainda, desenvolver
equipamentos tecnológicos.
Um dos integrantes da Eletrocooperativa, Daniel Turcheto,
dedicou-se a estudar o funcionamento das máquinas que
vendem salgadinhos com a intenção de adaptá-las
para o comércio de CDs. "Bastavam algumas mudanças",
apostou Turcheto.
A engenharia mais complexa seria a comunitária: estabelecer
um preço que proporcionasse aos artistas a possibilidade
de ganhar mais, sem passar pelo intermediário, mas
que fosse, ao mesmo tempo, suficientemente atrativo para combater
o apelo do baixo custo da pirataria.
O CD sai por R$ 5, devidamente explicados na fachada da máquina:
custo de fabricação (R$ 1,50), valor do imposto
(R$ 0,50) e pagamento do artista (R$ 1,50) são alguns
dos itens. "O artista ganha 30% mais do que ganharia
numa gravadora", afirma Turcheto, inspirado na filosofia
do comércio justo.
A máquina atraiu músicos como Arnaldo Antunes
e teve seu primeiro teste há duas semanas num show
ao ar livre. Foram vendidos 200 CDs em dois dias.
O trabalho agora é, de um lado, arregimentar mais grupos
dispostos a vender suas músicas pelo sistema criado
pela Eletrocooperativa e, de outro, espalhar as máquinas
pelas cidades. Para facilitar essa disseminação,
não patentearam a invenção.
"Em cinco minutos de conversa, desistimos de patentear.
Queremos que as pessoas possam nos copiar", orgulha-se
Fefê. Essa é a única "pirataria"
da qual se sentem beneficiados.
O sonho agora (desta vez acordado) é que eles consigam
fechar um acordo com o Metrô e colocar uma máquina
em cada estação.
Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo,
editoria Cotidiano.
Links relacionados:
Música
Bandeira 2 do CD Fé Faz Falta de Fefê Gurman
http://www.myspace.com/fefegurman
Ritmo
"soteropaulistano"
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