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Cansadas da violência que
sofriam dentro de suas casas, e acreditando na força
interior que existe dentro de cada um, nove garotas da periferia
de Recife e Olinda decidiram lutar em busca de um ideal em
comum: prevenir a violência doméstica e resgatar
a auto-estima das vítimas. Assim nasceu a Força
Mista e Arte, cujos objetivos são alicerçados
em cinco elementos essenciais: união, diálogo,
confiança, afeto e respeito. Parceira do Instituto
Academia de Desenvolvimento Social, a Força Mista e
Arte abraça a prevenção à violência
doméstica, pela co-responsabilização
de proteger a criança, o adolescente e o jovem contra
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório
ou constrangedor. “Só informação
não é suficiente, é necessário
criar espaços para que as pessoas possam expressar
seus medos, idéias, opiniões, curiosidades,
sentimentos, que ofereçam segurança para falar
de forma saudável aspectos importantes de todos os
seres humanos, fortalecendo sua auto-estima, tornando-se capaz
de assumir o compromisso consigo e com os outros desejando
o bem-estar que o leve a ser mais feliz”, argumenta
a equipe.
Mesmo sem se conhecerem anteriormente
as componentes da Força Mista e Arte descobriram que
tinham em comum a necessidade de sair da violência que
sofriam dentro de suas casas, praticada pelos pais, parentes
e amigos da família. O grupo se conheceu e se formou
na ONG Coletivo Mulher Vida, que trabalha com o tema violência
doméstica. “Passamos algum tempo no Coletivo
Mulher Vida, e lá resgatamos a nossa auto-estima e
aprendemos a dizer não a qualquer forma de violência”,
destaca a equipe. Para as vitimas da violência doméstica
é sempre muito difícil falar a respeito, porque
envolvem de forma negativa as pessoas que mais amamos. As
conseqüências desta violência são
inúmeras: sentimentos de rejeição e culpa,
agressividade, dificuldade para dormir, dificuldade de concentração,
dificuldade nos relacionamentos, depressão, ansiedade,
idéias suicidas, crises de pânico e muitas outras
que fizeram parte dos seus cotidianos durante muitos anos.
A violência doméstica contra crianças
e adolescentes pode se manifestar de diversas maneiras além
da agressão física, dentre elas a omissão
e negação aos direitos essenciais podem ser
os piores. Vale ressaltar que tal situação não
está necessariamente ligada à pobreza em que
vivem. Outro tipo de violência comum contra os jovens
é o abuso e exploração sexual, um fator
que acarreta fortes traumas nas vítimas, desencadeando
falta de concentração, dificuldade de aprendizagem,
depressão, ansiedade, baixa auto-estima, insônia,
IST/AIDS, timidez excessiva, entre outros. “A violência
doméstica acontece sempre no âmbito familiar
onde o agressor é sempre conhecido da vítima.
A violência está presa a fatores culturais, econômicos,
jurídicos e psicosociais e atua de forma interdependente
tornando mais difícil o trabalho com o tema. Na maioria
das vezes os casos só são denunciados quando
já estão bastante evoluídos”, observa
a equipe.
Pessoas de baixa renda estão
ainda mais vulneráveis à violência, pois
são negligenciadas em seus próprios direitos
básicos: alimentação, moradia, educação,
saúde e lazer, entre outros. O pior de tudo é
que a violência traz consigo a falta de diálogo
e consequentemente uma enorme falta de informação
entre os adolescentes e jovens, o que pode acarretar em gravidez
precoce, uso de drogas (lícitas e ilícitas),
prostituição, IST/AIDS, falta de cuidados básicos
com o corpo e promiscuidade. Na maioria das vezes, tanto a
gravidez precoce quanto à prostituição
surge como “alternativa” para sair de casa e fugir
da violência sofrida. Nestes casos, os jovens estão
com a auto-estima fragilizada e acabam se colocando em outras
situações de violência.
E foi com base nessas premissas que
a equipe construiu seus objetivos de trabalho, cuja implantação
está sendo executada, a principio, nas comunidades
em que atuam e residem. São elas: Águas Compridas,
Caixa D’água e Cidade Tabajara (Olinda); Campo
Grande, Bomba do Hemetério e Dois Unidos, locais em
que são detectados altos índice de violência
doméstica camuflada pelo muro do silêncio. O
projeto da Força Mista e Arte é realizado dentro
da própria comunidade, e a divulgação
é feita em pontos de encontro do público-alvo:
escolas públicas, postos de saúde, associações
comunitárias, etc. O público é formado
por adolescentes com idade entre 13 e 20 anos, de baixa renda.
É articulado um espaço dentro da comunidade
para o desenvolvimento dos trabalhos, semanalmente, com apresentação
de peças teatrais, oficinas vivenciais, debates e palestras
sobre os temas: Violência Doméstica, Sexualidade
e Gênero com duração de quatro horas a
cada encontro. O processo é assistido por duas educadoras
sociais, com formação em violência doméstica
e os assuntos propostos são sumamente relevantes e
permeiam o universo da puberdade, virgindade, masturbação,
IST/AIDS, gravidez, métodos contraceptivos, homossexualidade,
prostituição, formas de violência doméstica,
entre outros.
LUCIANA TORREÃO
do site
Movimento Juvenil
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