Cerca de dez mil pessoas, de oito
comunidades do litoral norte da Bahia, estão vendo
aflorar as potencialidades econômicas locais com a ajuda
de um programa idealizado pela Fundação Banco
do Brasil e pela Sauípe S/A: o Programa Berimbau. O
projeto está sendo implementado na região da
Costa do Sauípe, na Bahia, onde se encontra o maior
empreendimento turístico da América Latina,
com cinco hotéis e seis pousadas.
O complexo turístico é localizado no município
de Mata de São João, a 110 quilômetros
da capital. Neste empreendimento, são empregadas 2,4
mil pessoas – 40% da mão-de-obra é formada
por habitantes da região – e recebe cerca de
150 mil turistas por ano. A idéia é aproveitar
esta infra-estrutura para fortalecer as atividades econômicas
da região, promovendo as vocações e viabilizando
o desenvolvimento das potencialidades locais.
O projeto foi lançado em julho de 2003 e já
tem resultados concretos. “Houve incremento de renda
dos artesãos e da atividade de artesanato. Hoje temos
um número crescente de pedidos, inclusive do exterior.
Além disso, também houve fortalecimento do associativismo
na região, pois todas as comunidades hoje têm
associação de artesãos”, conta
Francisco José de Oliveira, coordenador do Programa
Berimbau.
Artesão desde os 12 anos de idade, só aos 50
José Soares dos Santos, o Zelito, viu ser concretizado
um sonho antigo. “Sou um homem realizado. O que eu mais
queria era ter uma associação organizada. Antes
nós trabalhávamos isolados. Agora, trabalhamos
em grupo e podemos dividir tarefas”, comemora.
Com a associação, os artesãos locais
passaram a produzir 20% a mais. Eles fazem principalmente
bolsas e tapetes utilizando a piaçaba e a fibra da
palmeira de ouricuri. Com este incremento na produção
e com o melhor aproveitamento do material , graças
ao trabalho em grupo, houve também incremento da renda.
Em alguns casos, os artesãos tinham renda mensal de
menos de um salário-mínimo e agora eles conseguem
mais de três salários por mês. “Hoje
temos um endereço para que a transportadora venha pegar
a mercadoria. Tudo isso aumentou muito o orgulho que o artesão
tem de seu trabalho”, destaca Zelito.
Em 8 de outubro, três inaugurações irão
fortalecer ainda mais as bases deste projeto de desenvolvimento
sustentável na região. São elas: um Centro
de Produção e Comercialização
de Artesanato, uma Estação Digital e uma Central
de Abastecimento, onde os agricultores da região irão
comercializar seus produtos.
A Estação Digital está sendo levada
como parte do Programa Inclusão Digital, da Fundação
Banco do Brasil. “A chegada do primeiro telecentro em
Porto do Sauípe irá propiciar um benefício
imensurável para a comunidade. E a oferta deste serviço
também vai gerar renda para a comunidade quando o turista
pagar taxas por utilizar a estrutura”, observa Francisco.
O Centro de Artesanato vai concentrar a atividade dos artesãos
locais, para que produzam em conjunto, e será um ponto
de distribuição. Neste local, a associação
de artesãos terá um escritório, com infra-estrutura
para receber pedidos, além de uma loja para a comercialização
direta.
Fome Zero
Elaborado de acordo com as diretrizes do programa Fome Zero,
o Berimbau tem o apoio do Ministério do Trabalho e
Emprego e se constitui em um conjunto de 19 iniciativas para
a geração de trabalho e renda nas comunidades
de Areal, Canoas, Curralinho, Diogo, Estiva, Porto Sauípe,
Vila Santo Antônio e Vila Sauípe. Juntos, Fundação
Banco do Brasil e Sauípe S/A estão investindo
R$ 2,5 milhões.
“As pessoas estão sendo profissionalizadas,
tendo incremento na renda, e terão a auto-estima melhorada.
Elas vão se inserir no mercado, segundo sua capacidade
de produção e de organização,
para elas mesmas gerenciarem e se desenvolverem. Todas estas
ações estão dentro do programa Fome Zero
do governo federal e contam com recursos do Ministério
do Trabalho”, revela Jacques de Oliveira Pena, presidente
da Fundação Banco do Brasil.
As características comuns a todas as ações
do Berimbau são o cooperativismo e a auto-sustentabilidade,
para que os projetos continuem gerando renda e oportunidades
de trabalho, mesmo sem a interferência de parceiros.
“O que se pretende é fortalecer potencialidades
já existentes no local para viabilizar, nas comunidades,
a oferta de produtos consumidos pelos turistas”, explica
Francisco.
As ações englobam a prática de atividades
produtivas com base na agricultura familiar e orgânica,
pesca e mariscagem, além de criação de
pequenos animais, artesanato, projetos de aproveitamento e
reciclagem de sobras de processos produtivos, preservação
e disseminação da cultura local e desenvolvimento
de valores artísticos.
As linhas gerais do Berimbau foram desenhadas a partir da
discussão com os moradores das comunidades. O resultado
é um projeto que investe em escolas e cursos de reciclagem
e capacitação. Os cursos oferecidos são
de gestão, cooperativismo, agricultura orgânica,
trabalhos em madeira e educação ambiental. A
alfabetização também é um dos
componentes do programa. Em 2003, 250 pessoas passaram pelo
Programa BB Educar, da Fundação Banco do Brasil.
A inserção de cursos de reciclagem entre as
atividades tem como alvo as quase dez toneladas de lixo geradas
diariamente pelo complexo turístico. O projeto também
prevê a instalação de uma Usina de Biodegradação
Acelerada, que deve ser inaugurada em dezembro deste ano.
A usina irá reduzir o tempo de decomposição
dos dejetos orgânicos de cem para apenas três
dias.
“O que se pretende com este projeto é aproveitar
as oito toneladas de lixo orgânico produzido em Costa
do Sauípe diariamente. A idéia é transformar
este lixo em adubo orgânico e em fertilizante, que serão
repassados aos pequenos produtores da região”,
explica Francisco. O lixo será destinado a uma cooperativa
chamada Verdecoop, que o transformará em adubo. O Condomínio
Costa do Sauípe comprará 15% da produção
para utilizar nas suas áreas verdes. Os outros 85%
serão repassados para a Coopevales, uma cooperativa
de produtores rurais.
O objetivo é criar condições para que
estas pessoas produzam com qualidade e a preços competitivos.
O incremento na produção local é um interesse
também de Costa do Sauípe, porque isso melhora
a operação do empreendimento, evitando a ação
de intermediários, que agregam custo ao produto final.
“A Costa do Sauípe poderá eliminar o valor
do frete e fazer o acompanhamento da qualidade do que compra,
e o produtor rural será mais bem remunerado, ainda
que o empreendimento gaste menos”, analisa Francisco.
Cenário a ser alterado
No início da implantação do projeto,
cerca de 56% da população local não tinham
rendimentos; 45% eram analfabetos e 23% recebiam menos de
um salário-mínimo por mês. A mudança
neste cenário de exclusão está prevista
pelo projeto por meio da aplicação de modelos
de economia solidária, do desenvolvimento das comunidades
e das pessoas e do estímulo ao associativismo.
Com apoio técnico e gerencial, o projeto Berimbau
pretende incutir uma mentalidade empreendedora nos produtores
locais, como artesãos, pequenos produtores rurais,
pescadores, autônomos, doceiros etc. Crianças
e jovens também são contemplados ao participarem
de atividades sociodesportivas e culturais, que auxiliarão
na formação da cidadania e contribuirão
para reduzir o risco social.
Estas perspectivas já despertaram o interesse internacional.
A partir da parceria estabelecida entre a Diretoria Internacional
do Banco do Brasil e a International Trade Center (agência
subordinada à Organização das Nações
Unidas para desenvolvimento cooperado do comércio mundial),
o Berimbau foi escolhido como piloto, no Brasil, para o desenvolvimento
de ações de capacitação, assistência
técnica, consultoria e marketing.
O Banco do Brasil, com todas as instituições
vinculadas a ele, como a Fundação Banco do Brasil,
quer fazer do Costa do Sauípe um empreendimento-modelo
de responsabilidade social para as comunidades do entorno.
“Quando fazemos qualificação profissional,
visamos a dar empregabilidade dentro do empreendimento. Quando
apoiamos a agricultura, tentamos viabilizar que a produção
seja destinada para o mercado consumidor do empreendimento.
O objetivo é integrar o Costa do Sauípe às
comunidades, para que elas sejam beneficiárias da existência
do empreendimento”, explica Jacques de Oliveira Pena.
Para que o objetivo seja alcançado, além das
ações que já estão em andamento,
o programa tem diversas linhas em formatação.
Em setembro, houve a fundação de uma cooperativa
de pescadores na região. Com isso, teve início
a discussão da realização de ações
de qualificação profissional para estes cooperados.
Há ainda projetos envolvendo o beneficiamento do coco,
incluindo a água e outros subprodutos que podem ser
utilizados, e a implantação de uma fábrica
de xampu, com produtos da flora regional, que possa ser utilizado
nos hotéis. Os coordenadores do programa também
estão em negociação com o Ministério
do Esporte para a realização de um projeto que
envolva a questão do lazer e do esporte nas comunidades
atendidas pelo Berimbau.
SANDRA FLOSI
da Fundação Banco do Brasil
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