''Quero fazer uma guerra de
paz
Para acabar com tanta dor
Só que em vez de mortos
Terá só amor
As balas de revólveres
Seriam trocadas por solidariedade
Onde um ajudaria o outro
Com amor e bondade''
Trecho da poesia ''Guerra de Paz'', de Klayton Rodrigues de
Souza, 14 anos, estudante de Londrina, no Paraná.
Como a flor que o poeta Carlos Drummond de Andrade fez nascer
no asfalto no poema ''A Flor e a Náusea'', o estudante
londrinense Klayton Rodrigues de Souza, 14 anos, também
faz florescer seus sonhos juvenis usando apenas a força
das palavras. Onde quase todos perceberiam apenas uma existência
estéril, violência e privações,
ele enxerga vida e busca inspiração para escrever
poesias honestas e, ao mesmo tempo, surpreendentemente otimistas.
O pequeno poeta não se deixa abater pelas dificuldades
da pobreza. Mesmo sem recursos para adquirir livros, ele está
conseguindo montar uma pequena biblioteca num cantinho da
casa de madeira onde vive com a mãe, Bernardete Rodrigues
de Souza, 37 anos, nos fundos do Jardim Santa Fé (Zona
Leste). Trabalhando como catadora de papel, ela garimpou livros
que haviam sido jogados foras e os entregou para o filho.
A partir daí, o gosto pela leitura só foi aumentando.
E do prazer de ler nasceu o talento para escrever.
Klayton tinha apenas 10 anos quando escreveu sua primeira
poesia. Por intermédio da jornalista Patrícia
Zanin, que desenvolvia um projeto no bairro, pode ver publicado
seus primeiros versos em um jornal que circulava na comunidade.
Já na primeira experiência, abordou a violência.
''Sempre gostei de ler mas nunca tinha tentado escrever nada'',
confessa. A partir daí não parou mais. O estudante
conta que já encheu um caderno e está em vias
de completar o segundo.
Sua principal fonte de inspiração são
as mazelas do difícil cotidiano de garoto pobre. Violência,
drogas, guerras, tiroteios, prostituição...
são todos temas para ele. Klayton destaca que sua poesia
preferida é a que fala do sonho de fazer uma guerra
de paz. ''É claro que isso não existe, mas eu
fiz. Em vez de colocar a dor da guerra, troquei as palavras
ruins por coisas boas'', explica o garoto. ''Gosto de falar
do dia-a-dia, da pobreza, dos sentimentos, das coisas'', continua.
Mas o que pensa o jovem poeta quando está escrevendo?
''Só penso nas palavras'', aponta com segurança.
''É um dom dele porque eu nunca incentivei'', garante
a mãe. Morando apenas os dois e ficando boa parte do
dia sozinho, ela comemora que a poesia o afasta das coisas
ruins. ''Ele não me dá trabalho, sabe os amigos
que tem, convive com a violência e sabe que o mundo
lá fora é diferente'', elogia.
O talento com as palavras, não por acaso, chama a
atenção também dos amigos. ''Eles pedem
para eu escrever poesias para eles'', revela o garoto. E além
do incentivo dos colegas, Klayton recebe ainda atenção
especial de sua professora de Língua Portuguesa, Cláudia
Cristina Lonardoni Agostini. Ela é sempre uma das primeiras
a ler suas poesias e se encarrega de fazer as correções.
Cláudia destaca que Klayton é atencioso e questionador
e consegue superar as dificuldades que tem. ''Apesar da realidade
triste, ele consegue tirar o belo'', elogia.
E assim, fazendo versos da dificuldade, Klayton persegue
o sonho de ver um dia um livro com todos os seus poemas. Já
pensou até no título: ''Minhas Letras''. E para
quem acredita que tal sonho é inalcançável,
é bom refletir sobre o exemplo de Drummond no poema
''A Flor e a Náusea'': ''Uma flor nasceu na rua! Passem
de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem. Seu nome não
está nos livros. É feia. Mas é realmente
uma flor.''
As informações são da Folha de Londrina.
|