SALVADOR (BA) - Quem poderia imaginar
que uma voz saindo de uma caixinha de som, no alto de um poste,
resultaria numa rádio só do povo? E que esse tipo
de comunicação se transformaria num poderoso veículo
de expressão social dos membros de uma comunidade?
Gerida por uma associação cultural comunitária
sem fins lucrativos e fiscalizada por um conselho comunitário,
com pelo menos cincos representantes de entidades da comunidade,
a rádio é de extrema importância para
os moradores locais. Ela divulga a cultura; o convívio
social; os eventos locais e noticias; os acontecimentos comunitários
e de utilidade pública e ainda ajuda a promover atividades
educacionais para a melhoria das condições de
vida da população.
É o que confirma o universitário de filosofia,
Roberto Lima, 24 anos, ouvinte da Radio Comunitária
Cajazeiras FM, situada no bairro de Cajazeiras, em Salvador,
Bahia. “Essas rádios falam sobre coisas que não
costumamos ouvir em rádio alguma, como a relação
das pessoas com o mundo das drogas e o que elas podem causar
ao futuro tanto do jovem, quanto da família. Ou ainda
orientações sexuais para a juventude que, por
falta de informação, acabam confundindo as coisas
e fazendo besteira”, diz.
Roberto ouve a Cajazerias FM todos os dias enquanto está
no trabalho e já está familiarizado com sua
programação. “A rádio tem um programa
voltado aos idosos da sua comunidade chamado Cantinho da Vovó.
O programa fala sobre os direitos e os deveres desses moradores
e também mobiliza os jovens em relação
ao grau de respeito que eles devem prestar às pessoas
mais velhas”, lembra.
Quando bem administradas, essas rádios são
de grande importância na vida do bairro. A essência
do seu trabalho é disponibilizar um espaço para
que o povo possa participar e expressar a sua opinião
sobre determinado assunto e fazer o bem à sua comunidade.
A Natureza Fm (103,3) é mais um desses exemplos. Ela
está situada no bairro Dois de Julho, também
em Salvador, cercada pela paisagem natural que deu origem
ao seu nome. A rádio distribui cestas básicas
para a sua comunidade e diz apoiar o Programa Fome Zero, do
governo federal.
Mas nem tudo é uma maravilha no mundo dessas rádios.
Fique sabendo que para estarem agindo na comunidade elas passam
por um sufoco inimaginável. Elas sofrem uma perseguição
danada porque a maioria não tem autorização
da Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel) para funcionar e a liberação demanda
tempo e burocracia.
Só que a rede de rádios comunitárias
cresceu tão rápido no Brasil que até
o presidente Lula resolveu dar uma força. Desde abril
desses anos está havendo uma esforço maior por
parte do governo para acelerar o processo de legalização
dessas rádio, mas com uma condição: elas
têm que estar filiadas ao programa Fome Zero, como a
rádio Natureza FM.
Roberto Lima que, além de ouvir à programação
da rádio Cajazeiras FM quando está no trabalho,
ouve a Rádio Natureza FM quando está em casa,
conta que a rádio do Dois de Julho é de grande
ajuda para a comunidade no combate à fome. “A
rádio ajuda a conscientizar o povo a economizar para
ajudar o seu próximo. Isso porque muitos alimentos
são desperdiçados e a quantidade é tão
grande que daria para sustentar outra família”,
diz.
As rádios comunitárias que ficam nos municípios
atendidos pelo Programa Fome Zero estão encabeçando
a lista das que receberão concessão do Ministério
das Comunicações. Depois de muito penar com
as perseguições e o apreendimento de equipamentos
pela Polícia Federal, elas ganharam algum sossego com
a iniciativa do presidente.
A cada passo que damos há um motivo para festejar.
Quem sabe conseguiremos mudar o Brasil para ser um país
de todos? Sabemos que nada que é muito fácil
é motivo de alegria e o que é difícil
é mais gostoso. A mídia, através das
rádios comunitárias, pode ser a nossa principal
arma para conscientizar a população da importância
do saber e do fazer!
ANTÔNIO SANTIAGO
do site Sou de Atitude
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