Maximilien Calligaris
André
Malraux não foi apenas um aventureiro e um escritor
(autor da “Condição Humana). Ele foi também
Ministro da Cultura da França durante dez anos, de
1959 a 1969.
Em primeiro de agosto 2007, o presidente da França,
Nicolas Sarkozy, citou Malraux ao definir a missão
do Ministério da Cultura em seu governo: “tornar
acessíveis as obras capitais da humanidade, garantir
que nosso patrimônio cultural tenha a maior audiência
possível”.
Nessa direção, a atual ministra da cultura,
Christine Albanel, em cooperação com a Direção
dos Museus da França, decidiu desenvolver um projeto
experimental: de janeiro até o fim do primeiro semestre
de 2008, nove museus franceses abrirão gratuitamente
ao público suas coleções permanentes.
A lista dos museus escolhidos ainda não foi publicada,
mas “Le Figaro” (importante jornal parisiense)
anuncia que, em Paris, ela incluirá o museu Guimet
(arte asiática), o museu Cluny (idade média)
e o museu de arqueologia. Já no resto da França
serão o museu da renascença no castelo de Écouen,
o museu da porcelana em Limoges e o palácio Jacques-Coeur
em Bourges.
A medida não incluirá museus como o Louvre,
o d´Orsay em Paris ou o castelo de Versailles, que são
os museus cujo público é constituído,
sobretudo, por turistas (de 60% para cima).
Com essa nova medida, a ministra quer, declaradamente, encorajar
os jovens, de 18 a 25 anos, a freqüentar os museus. Em
geral, essa categoria de cidadãos encara a visita como
uma obrigação herdada da época escolar.
Algumas observações:
1) essa “novidade” anunciada pelo governo francês
não é uma grande novidade, mas uma tendência
européia. Desde os anos 90, foi introduzida na Grã-Bretanha
pelo governo de Tony Blair.
2) é difícil imaginar que o preço de
entrada seja a verdadeira razão que afasta os jovens
dos museus. Os estudantes já têm reduções
sistemáticas e existem promoções: até
para o Louvre (que não faz parte da lista) há
uma carteirinha, por exemplo, que custa 15 Euros (42 reais)
e dá o direito ilimitado de acesso durante um ano.
Além disso, no ano passado, a Documentação
Francesa publicou uma pesquisa, de Anne Gombault e Christine
Petr, “La Gratuité des Musées et des Monuments
Côté Public” (A Gratuidade dos Museus e
dos Monumentos do Lado do Público). A pesquisa constatou
que “a gratuidade é secundária na construção
e realização de um projeto de visita, ela está
longe de ser a chave de entrada da freqüentação
dos museus e dos monumentos. Essa chave está, antes
de mais nada, na implicação dos indivíduos
nessa atividade.” Ou seja, o que traria visitantes (e
ainda mais jovens) para o museu não é a gratuidade
da entrada, mas a eventual relação do museu
e de suas exposições com a vida concreta das
pessoas.
O projeto do ministério custará entre 150 e
200 milhões de euros. A própria difusão
do projeto terá a vantagem de lembrar ao público
a existência dos museus escolhidos. Certamente haverá
um aumento de visitantes no começo. Resta saber se,
a médio prazo, a medida responderá à
missão de Malraux. Para levar o público e, sobretudo,
os jovens a visitar museus, talvez a gratuidade seja pouco.
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