|
O mercado
de seguro de crédito começa a decolar no Brasil.
Só em 2007, ele movimentou R$ 434 milhões e
diante do forte momento de expansão já enfrenta
um apagão de talentos. Com a entrada de novos players
- a exemplo da companhia espanhola Crédito y Caución,
que abriu escritório em São Paulo há
um ano -, e a perspectiva de outra leva de multinacionais
aportarem por aqui, está esquentando a disputa por
talentos nos últimos 12 meses.
"Recentemente , tivemos a visita
de três seguradoras estrangeiras de crédito interessadas
em atuar no mercado brasileiro", afirma Armando Vergilio,
presidente da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
"É a área que mais crescerá dentro
do setor de seguros, por conta do reaquecimento da economia
e o aumento do crédito". Vale ressaltar que o
seguro de crédito é dirigido às operações
de risco das empresas nas vendas a prazo de produtos ou serviços.
Essa falta de profissionais, entretanto,
afeta não apenas as seguradoras como também
as corretoras. Para driblar a escassez de gente especializada,
a Coface, seguradora francesa controlada pelo grupo Natixis
e que administra apólices superiores a R$ 21 bilhões
no país, adotou a estratégia de procurar profissionais
nos bancos. "Eles possuem um perfil mais agressivo, muito
próximo daquilo que queremos ter em nossas equipes",
ressalta Fernando Blanco, presidente da subsidiária.
"São profissionais que sabem avaliar o potencial
de negócios, estão ligados ao que acontece no
cenário local e mundial".
O próprio Blanco foi "caçado"
do mercado financeiro pela Coface há um ano e meio.
Com uma trajetória de 20 anos na área, o executivo
ocupava o cargo de diretor de crédito do ABN Amro quando,
sem pestanejar, aceitou o convite para comandar a operação
local da seguradora. "Troquei dinheiro por desafio",
dispara. "Existe um enorme espaço a ser explorado".
Em 2007, destaca, houve um crescimento de 13%, patamar que
promete chegar a 25% este ano.
A mudança, para Blanco, representava
um importante salto na carreira, já que a partir dali
se tornaria presidente de um grande grupo. "É
uma aposta que não tem preço. Dificilmente eu
chegaria ao posto de número um no banco", explica.
Mesmo que fosse necessário abrir mão de um salário
atraente, já que na época a área financeira
começava a dar sinais de aquecimento ao pagar bônus
polpudos. "Hoje ganho 20% a menos", revela.
No mercado de seguro de crédito,
aliás, o maior atrativo no pacote de remuneração
não é a parte variável e sim o valor
fixo. Ricardo Barcelos, gerente da divisão de seguros
da Michael Page, consultoria especializada no recrutamento
de executivos para média gerência, ressalta que
essa política de priorizar o salário base no
setor é um dos entraves na hora de se buscar gente
dentro do mercado financeiro.
"Os bancos continuam pagando
mais do que as seguradoras, exceto aquelas ligadas às
instituições financeiras", diz. Muito embora
acredite que com o crescimento do setor no país, as
empresas passem a seguir as práticas adotadas por indústrias
maduras, baseadas na performance do profissional, valorizando
a remuneração variável.
Na Marsh, maior corretora de seguros
do mundo, a demanda gerada pelos serviços de seguro
de crédito e garantia (apólice que garante que
uma obra será concluída) levou a empresa a adotar
uma política salarial mais agressiva. Estratégia
que visa reter os funcionários, sobretudo quando não
existe gente sobrando no mercado e a luta com a concorrência
é grande.
"Não há mais do
que 30 profissionais especializados em seguro de crédito
no Brasil", afirma Mariane Guerra, gerente de RH da Marsh.
Em meio a essa batalha, a corretora resolveu apostar na formação
de profissionais para suprir a escassez de mão-de-obra.
Mas enquanto eles não estão prontos, a empresa
continua recorrendo a prática de recrutamento no mercado.
Recentemente, preencheu duas vagas que estavam em aberto,
após meses de procura. Para tanto, chegou a "importar"
talentos.
Foi o que aconteceu com o português
Pedro Abrantes Pinheiro, "caçado" pela corretora
em junho do ano passado. Profundo conhecedor do mercado de
seguro de crédito, Pinheiro foi responsável
por desenvolver essa área na região sul de Portugal,
sete anos atrás quando trabalhava na Mapfre. Em 2004,
foi convidado para vir ao Brasil, onde exerceu a posição
de gerente comercial por dois anos. Pouco tempo depois, retornou
à sua terra de origem, contratado pela filial da Crédito
& Caución naquele país.
Há 10 meses, desembarcou em
São Paulo, com a mulher, para ocupar a gerência
comercial da Marsh. "Esse é um setor bastante
aquecido, onde há assédio de outras companhias",
observa. Apesar de reconhecer que o mercado brasileiro ainda
é novo se comparado ao europeu, em que praticamente
quase todas as empresas possuem seguro de crédito,
a falta de talentos também atinge o mercado internacional.
"A cadeira que deixei lá continua vazia, sem ser
preenchida".
De olho no espaço que começa
a surgir no mercado brasileiro, a Crédito Y Caución
resolveu aportar por aqui há um ano, se tornando a
primeira operação da seguradora espanhola fora
da Europa. De acordo com o presidente, Jesús Angel
Victorio Cano, a idéia é explorar melhor o setor,
incipiente no Brasil. Para tanto, montou uma equipe de cinco
profissionais, todos vindos de outras seguradoras de crédito.
Nos planos de Cano existe a possibilidade
de ampliar o quadro no médio prazo, muito embora o
principal celeiro de talentos, ressalta, não esteja
nos bancos. Esquentando ainda mais a briga por profissionais
no mercado de seguro de crédito. "Nosso crescimento
no país vai depender de como o mercado vai se comportar",
salienta o executivo.
Se depender disso, a Crédito
Y Caución certamente verá seu sonho de expansão
sair do papel. Semana passada, mais uma empresa surgia no
mercado, movimentando o setor. O Banco Fator anunciou sua
entrada no mercado de seguros, com a criação
da Fator Seguros, em junho. A seguradora começa a operar
com 20 funcionários e tem a meta de arrecadar R$ 43
milhões nesse primeiro ano de operação.
O foco serão os seguros de crédito, garantia
e responsabilidade civil.
Espera-se ainda uma maior ebulição
no mercado no mês que vem com a aquisição
de 75% da SBCE (Seguradora Brasileira de Crédito Exportação)
pela Coface. A seguradora, que hoje detém uma participação
de 27,5%, passará a ter o controle, com a compra das
fatias dos sócios: Unibanco AIG, Bradesco, SulAmérica
e Minas Brasil. Os outros 25% continuam nas mãos do
BNDES e do Banco do Brasil. Segundo Blanco, presidente da
Coface, com a operação o número de funcionários
subirá dos atuais 49 -o dobro em relação
a 2006 - para 90.
Por Andrea Giardino,
(Colaborou Altamiro da Silva Júnior)
Valor Econômico
|