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Projeto
Fábricas da Cultura resulta no espetáculo Pedrinho
Luz, com elenco na faixa etária entre 14 e 19 anos
Mil e duzentos jovens, com idade entre 14 e 19 anos, moradores
de bairros considerados socialmente críticos, segundo
o Índice de Vulnerabilidade Juvenil, da Fundação
Seade, como Capão Redondo, Brasilândia e Sapopemba.
Oito coordenadores artísticos, entre eles, o percussionista
Ari Colares, a bailarina e crítica de dança
Inês Bogéa e o diretor teatral Marcio Aurélio.
Nove edifícios, ou melhor, nove Fábricas de
Cultura, de onde devem sair belos espetáculos e provar
que basta uma única oportunidade para mostrar do que
esses jovens são capazes. Amanhã e quinta, às
20 horas, o piloto desse projeto, que já está
transformando a vida de muitos desses jovens até então
carentes por cultura, será apresentado no Teatro São
Pedro. Podem chamá-lo de Pedrinho Luz.
O nome do menino, no título,
diz respeito ao protagonista dessa história que será
recontada dez vezes e de formas distintas (os coreógrafos
convidados para dirigir os espetáculos de cada unidade
têm plena independência na criação).
Pedrinho é uma releitura de Petrouchka, balé
folclórico russo inspirado numa versão da commedia
dell''arte italiana, que foi ao palco pela primeira vez em
1911. O menino, na verdade, é um boneco, que se apaixona
por uma marionete, a Bailarina, que, por sua vez, só
tem olhos para outro boneco, o Mouro. Toda a trama é
conduzida pelo Mágico, o manipulador de todos eles.
A Luz, que acompanha o nome do menino
no título, vem do fato desse projeto piloto ter sido
concebido no bairro paulistano que tem essa denominação.
Mas também pode ser facilmente associado à oportunidade
que esses meninos não sonhavam em ter tão cedo.
O projeto idealizado em 2002 e que só agora ganhou
fôlego para sua realização conta com o
incentivo de R$ 10 milhões - 70% desse valor é
financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
e 30% dele pela Secretaria de Estado da Cultura. Luiz Nogueira
foi o responsável por tirar a iniciativa da gaveta
e apostar nela todas as suas fichas. ''Sempre acreditei que
a principal expressão dos jovens se dá pelo
corpo. É com ele que esses meninos se divertem, se
reconhecem pelos gestos, pela dança, pela roupa que
usam'', opina o coordenador geral.
A segunda etapa consistiu no convite
aos profissionais gabaritados em suas respectivas áreas,
a fim de oferecer as ferramentas necessárias a esses
meninos na construção de um espetáculo.
Desde maio, os meninos do Pedrinho Luz vêm trabalhando
no processo de montagem e conseqüente apresentação.
Em agosto do ano passado, as inscrições foram
abertas aos jovens interessados em participar das outras nove
montagens espalhadas por nove pontos periféricos da
capital (Brasilândia, Cachoeirinha, Capão Redondo,
Cidade Tiradentes, Itaim Paulista, Jaçanã, Jardim
São Luís, Sapopemba e Vila Curuçá)
para, enfim, em setembro iniciarem o trabalho.
Cerca de 100 meninos integram cada
uma das unidades e recebem uma ajuda de custo de R$ 50, além
de lanche e transporte para suas apresentações.
Agentes culturais e arte-educadores, especializados nas mais
diversas áreas de humanas, também foram selecionados
por meio de concursos públicos para dar continuidade
ao programa. ''Muitos deles são da própria comunidade'',
conta Nogueira. ''Eles são responsáveis pela
identificação dos interesses dos meninos que,
muitas vezes, pende para outras áreas, como o esporte.
A nossa missão é a de inserção
social pelo mundo da cultura.''
A idéia é que, quando
todos os Pedrinhos estiverem prontos, eles realizem um processo
de rodízio entre si. Assim, todos terão a oportunidade
de checar o trabalho executado pelas diferentes Fábricas
de Cultura, iniciado com muita potência pelo piloto
dirigido por Susana Yamauchi, como a reportagem do Estado
pôde constatar em sessão prévia. ''Trabalhamos
quase todos os dias durante três meses. Eu apenas estimulei
a construção coreográfica: ali está
a assinatura de todos os meninos'', conta Susana. Os participantes
do Pedrinho Luz já tinham certa iniciação
na dança e, por isso, a qualidade técnica constatada
por quem assiste. ''Agora estamos em fase de montar um elenco
de manutenção, ou seja, de dar oportunidade
de todos os meninos exercitarem tanto o papel de protagonista,
quanto o de estar em conjunto, ambos muito importantes.''
A coordenação também
planeja realizar uma temporada de cerca de 2 meses num grande
teatro, como por exemplo o Sérgio Cardoso, com todos
os Pedrinhos, sendo uma semana para cada mais para o fim do
ano.
O sorriso estampado no rosto dos meninos,
durante e pós-espetáculo, dá a certeza
do retorno positivo da iniciativa. Bastam mais alguns milhares
de projetos como esse pelo Brasil para realizar o sonho não
sonhado de outros Pedrinhos ainda não atendidos.
Serviço
Pedrinho Luz. Theatro
São Pedro (636 lugares).
Rua Barra Funda, 171, Barra Funda
tel. 3667- 0499. 4.ª e 5.ª, às 20 horas.
Grátis (retirar ingresso uma hora antes)
Livia Deodato
O Estado de S.Paulo
Link relacionado:
Mil
e duzentos Pedrinhos agitam o teatro em São Paulo
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