João
Batista Jr.
Criar motivação, aumentar o desempenho escolar,
produzir identidade. Esses são alguns dos objetivos
do Círculo de Leitura, projeto criado em 2000 que promove
a leitura de grandes obras da literatura em escolas da rede
pública.
“O projeto nasceu com Catalina Pages”, conta
a coordenadora da iniciativa Patrícia Guedes. “Formada
em Psicologia, ela identificou a origem de muitos dos problemas
de seus pacientes, que, na verdade, vinham da falta de um
conhecimento anterior ao deles, de uma falta de conexão
com o passado, de uma falta de repertório que pudesse
criar um patrimônio interno.”
Pages, então, decidiu armar-se de livros para combater
esse problema. Para isso, saiu de seu consultório rumo
às salas de aula, onde formaria grupos de leitura com
o objetivo de dar identidade aos jovens.
“Nós lemos obras de Homero, de Platão,
de Richard Bach, de Guimarães Rosa, de Clarice Lispector.”
“Na verdade, basicamente fazemos a leitura em voz alta
dos clássicos da literatura que abordam os temas universais
da existência humana, como o amor e os relacionamentos.”
Ações
Para viabilizar os grupos de leitura nas escolas, foi necessário
o apoio de entidades interessadas na idéia. O Instituto
Unibanco, a Fundação GE e o Worldfund demonstraram
interesse no projeto, permitindo a formação
e a expansão do Círculo de Leitura.
“Hoje atendemos 900 jovens por semestre nas cidades
de São Paulo e São Bernardo do Campo”,
informa Guedes, “além de outros projetos que
auxiliamos, como o Procentro (Programa de Desenvolvimento
dos Centros de Ensino Experimental).” Para isso, o Círculo
de Leitura recorreu à capacitação do
que eles chamam de jovens multiplicadores.
“Os alunos que demonstram mais interesses durante as
leituras muitas vezes nos procuram para propagar o projeto”,
diz Guedes. Assim, sempre em duplas, eles levam o conhecimento
da literatura para mais jovens. Os grupos são sempre
formados por até 12 jovens. Para se tornar um multiplicador,
o jovem passa por um treinamento com a coordenação
do Círculo de Leitura.
Multiplicadora
“Sempre começamos com poesia”, revela Jeisiane
Galvão. Ex-participante do Procentro e atual jovem
multiplicadora, Galvão descreve o método para
iniciar os círculos: “Lemos em voz alta alguns
versos com temas capazes de produzir identificação
com os jovens em geral.”
Propósito
“Os adolescentes têm uma grande descoberta ao
perceber que gostam de ler”, avalia Guedes. “Os
jovens multiplicadores não são psicólogos,
porque eles não fazem um encontro para ouvir problemas;
eles se reúnem para ler os livros e analisar os sentimentos
que nele estão contidos.”
Para Guedes, a questão da violência está
profundamente ligada ao problema da educação.
“São questões da formação
do jovem com o mundo, então a leitura surge para dar
identidade, para eles virem que não estão sozinhos,
que não são os únicos a terem certos
problemas.”
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