Jovens,
crianças e idosos de baixa renda de Boa Vista, Roraima,
terão, em abril, oportunidade de ter o primeiro contato
com a informática. A primeira Estação
Digital na cidade começa a funcionar na Universidade
Federal de Roraima, aparelhada com 10 microcomputadores e
um servidor. “Em uma visita à Fundação,
o nosso Reitor Roberto Ramos Santos foi apresentado ao projeto
e gostou muito. Pediu que fosse feita a parceria. Enviamos
um projeto que foi aprovado”, conta Geyza Alves Pimentel,
Pró-Reitora de Extensão, explicando como a Estação
Digital UFRR virou realidade. O laboratório recebeu
o nome de Estação Digital UFRR.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios
de 2003 (Pnad), em Roraima apenas 8,6% dos domicílios
têm microcomputadores em casa. É um dos menores
índices do país. As estatísticas coletadas
apontam o Distrito Federal como o local que apresenta maior
grau de inclusão digital, com cerca de 30% do total
de domicílios com microcomputadores. Em seguida vem
São Paulo (24,6%), Rio de Janeiro (20,7%), Santa Catarina
(20%) e Paraná (17,9%). As menores taxas de acesso
encontram-se nos estados brasileiros mais pobres, como Piauí
(3,3%), Maranhão (3,8%), Tocantins e Alagoas (5,4%).
Mas a triste realidade da exclusão digital começa
a mudar em Roraima. Com o projeto da Estação
Digital UFRR, a Fundação Banco do Brasil pretende
contribuir para a inclusão digital. No projeto de Roraima,
pessoas carentes de várias faixas etárias terão
seu primeiro contato com a informática. “Procuramos
atender a um público que estava fora do uso do computador,
como crianças, jovens e pessoas da terceira idade.
E também dos seis bairros que ficam perto da universidade”,
conta Geysa. São eles: Cauamé, Caranã,
Jardim Floresta, Mecejana, Bom Futuro e Aeroporto.
Outro segmento da população que será
atendido pelo projeto é o de detentos do Presídio
Agrícola do Estado. Inscritos no Projeto João
de Barro, fruto do convênio entre a Universidade e a
Secretaria de Interior de Justiça, esses jovens selecionados
por uma comissão que conta com psicólogos, juristas
e educadores, terão a chance de se qualificar para,
após cumprirem a pena, voltarem ao mercado de trabalho.
“São apenados que cumprem pena em regime semi-aberto
e prestam serviço dentro da Universidade”, destaca
a pró-reitora. O projeto reúne 19 condenados
por penas leves, homens de 23 a 50 anos, que cumpriram penas
restritivas de liberdade.
Dois alunos da UFRR e um do Cefet (Centro Federal de Educação
Tecnológica), que se candidataram à vaga de
monitor, serão os responsáveis por ministrar
o curso. Eles foram capacitados pela Fundação
Banco do Brasil, em Brasília. No caso de Boa Vista,
os inscritos farão cursos de informática sem
custo algum nos primeiros seis meses do projeto, depois será
cobrada uma taxa para manutenção dos computadores.
”Ainda não temos um valor definido. Vamos conversar
com os monitores para ver os custos para manutenção
do equipamento e para a bolsa dos monitores”, conta
Geysa.
O novo laboratório de informática funciona
no bloco IV do Campus do Paricarana. O Curso de Iniciação
à Informática começa no dia 4 de abril,
com duração de um mês e turmas de 10 alunos.
Ao todo são 60 vagas. Os inscritos passam por um processo
de seleção, mas os que forem reprovados não
devem se preocupar: ”Já temos turmas preenchidas
para os próximos cursos”, conta a pró-reitora.
A intenção dos organizadores da Estação
Digital UFRR é manter grupos contínuos. O laboratório
também será aberto à população
necessitada dos bairros adjacentes nos horários vagos.
“Disponibilizaremos a sala para vários serviços,
como acesso à Internet e imposto de renda, apenas para
a comunidade que não tem microcomputador”, afirma.
Geysa acrescenta que as aulas podem trazer dois benefícios:
capacitar o estudante para o mercado de trabalho e proporcionar
lazer aos alunos. “Para as crianças e jovens
esperamos que eles possam utilizar o microcomputador no dia-a-dia
da escola, para fazer pesquisas. Já para a terceira
idade, vemos como uma fonte de lazer e de informação.
Para o público adulto será mais um auxílio
no trabalho, uma ferramenta de qualificação.“
As aulas serão ministradas nos três turnos,
manhã, tarde e noite, de acordo com o público-alvo.
Durante as manhãs será a vez da comunidade de
Boa Vista e dos funcionários do Projeto João
de Barro. À tarde, participam das aulas jovens de 09
a 16 anos, grupos da terceira idade e da comunidade, em turmas
separadas. À noite, a Estação Digital
atenderá somente grupos da terceira idade.
A falta de acesso da população carente às
novas tecnologias foi detalhada em 2003, no Mapa da Exclusão
Digital. Com dados coletados do Pnad e IBGE, pesquisadores
da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da
ONG CDI - Comitê para Democratização da
Informática e da Sun Microsystems, elaboraram o mapa
nacional de acesso à informática. De acordo
com o levantamento, 12,42% da população que
vive em áreas urbanizadas tem acesso a computadores,
mas no interior, apenas 0,98% está incluído
no meio digital.
Esse retrato vem, no entanto, mudando. O acesso a computadores
domiciliares cresce a cada ano, embora a porcentagem ainda
seja pequena em relação ao número total
de domicílios. Segundo dados da Pnad de 2002, 14,5%
dos domicílios possuem computador. Em 2003, a proporção
geral de domicílios com computador alcançou
15,3%, dos quais 11,4% ligados à Internet.
THAIS SENA SCHETTINO
do site da Fundação Banco do Brasil
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