Com
simpatias na região se esvaindo, americano resgata
conceito "de povo para povo"
Primeiro escalão do governo
promove reunião com 250 representantes de ONGs e grupos
da região; Bush cita sua proximidade com Lula
Poucos meses depois de visitar cinco países da América
Latina e receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
em seu retiro nas montanhas, o norte-americano George W. Bush
lançou uma nova ofensiva diplomática na região.
A palavra de ordem da empreitada é "de povo para
povo", dita pelo presidente na manhã de ontem
e ecoada por seus auxiliares.
"Os EUA estão profundamente envolvidos em projetos
de povo para povo", disse Bush, referindo-se a uma série
de iniciativas de seu governo na área de educação.
Descontraído, soltando frases em espanhol, ele próprio
mediava uma mesa-redonda com representantes de organizações
não-governamentais de cinco países, Brasil incluído,
cujo tema era "Uma Conversa sobre as Américas".
A sessão fazia parte do evento "A Conferência
das Américas da Casa Branca" -que tomou o dia
inteiro de ontem num hotel em Arlington, na Virgínia,
Estado vizinho de Washington- e reuniu o primeiro escalão
do governo com cerca de 250 representantes de organizações
não-governamentais (com 15 brasileiros presentes) de
34 países da região, Cuba excluída.
As outras mesas foram mediadas pela secretária de Estado,
Condoleezza Rice, e seus colegas, os titulares do Tesouro,
Comércio, Educação e Saúde, entremeadas
por um almoço oferecido pela primeira-dama, Laura Bush.
Nesta semana, são ou foram despachados para a região
diversos funcionários graduados do governo Bush, e
há novos eventos previstos para o final deste ano.
A arregimentação decorreu de uma avaliação
do Departamento de Estado de que tem havido uma "falha
de comunicação" do governo norte-americano
ao divulgar suas ações sociais e humanitárias
no continente. Para a Chancelaria, parte da ressonância
do discurso antiamericano alimentado pelo presidente venezuelano
Hugo Chávez na região viria dessa falha.
Segundo levantamento do Pew Reserach Center, divulgado no
dia 28, fora do Oriente Médio, a América Latina
é o continente em que a imagem norte-americana é
mais mal-avaliada. No Brasil, a visão positiva diminuiu
de 56% em 2000 para 44% neste ano. A tímida ajuda financeira
dos EUA para o continente, de menos de US$ 2 bilhões
previstos para 2008, também contrasta com os petrodólares
com que Chávez inunda a região.
Daí o tema não-oficial "de povo para povo",
do evento de ontem, uma tentativa de conectar setores da sociedade
norte-americana diretamente a seus pares latino-americanos,
com a discreta intermediação do governo dos
EUA. É baseado em iniciativa similar lançada
nos anos 50 do republicano Dwight Eisenhower (1953-1961).
"Como você deve ter notado, e o presidente Bush
disse, os laços mais importantes entre as Américas
são de povo para povo", disse Karen Hughes, ex-braço-direito
de Bush, atualmente subsecretária de Estado para diplomacia
pública, poucas horas depois do discurso do republicano.
O mesmo havia dito Thomas Shannon, o número 1 para
a América Latina da Chancelaria norte-americana, durante
comemoração da independência da Venezuela,
na embaixada do país em Washington, no fim de semana.
Ele tinha ido à festa, afirmou ao "Washington
Post","em respeito ao povo da Venezuela e em reconhecimento
ao fato de que, enquanto em democracias governos podem ir
e vir, os laços e a amizade entre os povos continuam".
Ontem, em bate-papo no site do Departamento de Estado, repetiria
o bordão. "Cada vez mais, nossa diplomacia não
se restringe aos governos, mas entre o povo e no meio do povo".
Brasil
Na primeira mesa-redonda do dia, Bush se sentaria com representantes
de seu próprio país, além de México,
Haiti, Guatemala e Brasil. Pelo último, como fundador
do Cidade Escola Aprendiz, estava Gilberto Dimenstein, colunista
e membro do Conselho Editorial da Folha.
"Tenho orgulho em dizer que as relações
com o Brasil estão melhorando", começou
o presidente. "Tenho uma relação muito
próxima com o presidente Lula, e nós trabalhamos
duro para mantê-la dessa maneira."
Sérgio Dávila
Folha de S.Paulo
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