João
Batista Jr.
Dados da recente pesquisa divulgada pelo Ministério
da Educação comprovam uma percepção
já antiga: a educação do país
vai mal. Os dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica) apontam que Brasil
ainda precisa de duas décadas para atingir índices
educacionais semelhantes aos dos países de primeiro
mundo.
Para debater o tema, um cientista que dedica sua vida à
pesquisa e à inovação, Isaias Raw –
diretor do Instituto Butantan. Já na época da
faculdade, organizou a criação de uma revista
chamada Cultos, criada com o propósito de estimular
o ensino das ciências.
“Não adianta estudar ciências na planilha
do computador. É preciso viver a ciência em laboratório.
O aluno deve fazer alguma coisa, criar, experimentar”.
Pensando nisso, Raw ingressou no departamento de Bioquímica
da Universidade de São Paulo. “Eu estava interessado
na formação de pesquisadores para o país.
Não adiantava começar isso tarde, o desafio
era dar a escola secundária condições
de os alunos realizarem experimentos”.
Para Raw, grande parte do material didático é
defasado por não propor desafios aos alunos. “O
aluno estuda já sabendo o resultado”. A inquietação
para que os métodos de ensinos fossem mais eficientes
fez com que o médico participasse da criação
da Fundação Carlos Chagas. “Para mim,
vestibular de múltipla escolha não inibe nada.
A pessoa não sabe nada e, mesmo assim, tem 20% de chances
de acerto. Isso não permite uma análise muito
cuidadosa das perguntas nem das respostas”.
Pesquisa
Além de o país sofrer com um ensino que não
estimula o processo de pesquisa e inovação no
campo das ciências, o mercado interno não se
mostra capaz de absorver os pesquisadores que saem todos os
anos da universidade. “Qualquer economista diz que o
Brasil só vai para frente se tiver mais educação,
mas educação não significa coisa nenhuma.
O Brasil não tem emprego para os doutores”.
”A pergunta que se tem de fazer é que tipo de
educação vai ser dada no país. Se você
forma uma pessoa que não está habilitada a nada
que não seja ser caixa de supermercado, não
interessa o diploma que ele tenha”.
Raw acredita que apenas uma mudança radical no sistema
de educação seria capaz de alterar o quadro
atual. “A discusão sobre o tema só vai
se inovar quando se jogar os livros no lixo. É preciso
repensar o conteúdo dos livros, que hoje são
passivos. É necessário que haja experimentação.
O exame tem de ser um desafio anual com índices sobre
o que o aluno aprendeu, e não o que vemos hoje”.
Além da USP e do Instituto Butantan, Raw trabalhou
por um ano em Israel e cinco no Massachusetts Institute of
Technology, importante universidade americana.
Saiba a nova novidade do Instituto Butantan
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