Governo de SP cruzou dados das faltas de docentes com
notas médias da rede no Saresp
Quando professor falta muito, vínculo afetivo
com crianças se quebra e aprendizagem é dificultada,
afirmam especialistas
Um estudo realizado pela Secretaria de Estado da Educação
de São Paulo aponta que o aumento das faltas dos professores
da rede estadual tem relação direta com dificuldade
de aprendizagem dos estudantes.
De acordo com essa pesquisa, um ponto percentual a mais no
índice de absenteísmo dos docentes representa
a perda para os estudantes da quarta série do ensino
fundamental de 7,5% na nota de língua portuguesa e
8,5% de matemática.
Para chegar a esses números, a secretaria cruzou dados
das faltas dos professores com as notas médias das
escolas estaduais no Saresp 2007 (exame da rede paulista).
Foi utilizado um modelo estatístico para comparar unidades
com condições praticamente iguais, mas com taxas
diferentes de absenteísmo.
Exemplo: duas escolas, com o mesmo número de alunos,
na mesma região. Em uma, porém, 13% dos professores
faltam todos os dias; na outra, 12%.
De acordo com a pesquisa feita em São Paulo, os estudantes
da primeira escola tiveram 14 pontos a menos que os da segunda
em língua portuguesa e 16 a menos em matemática
no Saresp.
As notas médias da rede estadual como um todo foram,
respectivamente, 187 e 183.
O mesmo padrão se repetiu para os diferentes perfis
de escolas da rede estadual -ou seja, o resultado representa
o comportamento de toda a rede estadual de ensino.
"Quando o professor falta, quebra o desenvolvimento das
atividades", afirma a coordenadora do Laboratório
de Ideias (área da secretaria responsável por
pesquisas), Priscila Albuquerque. "Os dados mostram que
o substituto não é perfeito, mesmo que ele seja
bem preparado."
Reação do governo
Uma reportagem publicada pela Folha em novembro de 2007 mostrou
que, em média, 13% dos professores da rede estadual
paulista faltavam todos os dias ao trabalho.
Desde então, o governo José Serra (PSDB) tem
adotado medidas para diminuir o absenteísmo no sistema
-métodos que recebem críticas das entidades
representativas do funcionalismo e por parte dos pesquisadores.
Uma das ações do governo foi limitar em seis
ao ano o número de ausências justificadas por
meio de atestados médicos. Até então,
o servidor podia faltar metade do ano letivo, sem sofrer descontos
em seu salário, desde que as faltas não fossem
em dias consecutivos.
De acordo com um balanço da Secretaria de Estado da
Educação, após a alteração,
houve diminuição de 59% nas faltas dessa modalidade
-um dos 19 dispositivos que permitem ao professor faltar sem
perda de salário.
A pasta afirma que outra medida que deverá diminuir
o absenteísmo na rede é o critério para
pagamento do bônus por desempenho, pois cada falta diminuirá
a gratificação do servidor (cujo valor total
pode chegar a 2,9 salários).
Problema para os alunos
A queda no desempenho escolar das crianças em razão
da falta dos docentes já havia sido identificada na
rede estadual de Minas Gerais, por meio de um estudo realizado
professor Tufi Machado Soares, da UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais).
Com base no sistema mineiro de avaliação, o
levantamento mostrou que os alunos da quarta série
que estudaram com professores que faltaram muito ao longo
do ano letivo tiveram média de 187 pontos em língua
portuguesa, ante 200 daqueles cujos docentes foram considerados
assíduos.
"O aprendizado do aluno não se dá apenas
do ponto de vista técnico. Há também
o vínculo afetivo, além de o professor conhecer
seus alunos", afirmou a pesquisadora em educação
Iraide Barreiro, dos campi de Assis e Marília da Unesp
(Universidade Estadual Paulista). "Quando isso é
quebrado, claro que há perdas aos estudantes."
"As faltas pesam mais nas turmas até a quarta
série, pois o mesmo professor fica com a turma o tempo
todo. A relação entre eles é muito estreita",
explica a diretora da escola Juventina Patrícia Santana
(zona sul de São Paulo), Nubia Mello.
Fábio Takahashi
Folha de S.Paulo
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