|
Nos
municípios do RS, Estado que mais se destacou no exame,
distância é menor entre as notas das escolas
particulares e públicas
Das dez melhores cidades no Enem,
seis são gaúchas; Estado trouxe de volta para
a rede pública alunos de classe média, diz dirigente
Os municípios cujos alunos conseguiram o melhor desempenho
no Enem (Exame Nacional de Ensino Médio) são
também aqueles que apresentam menor distância
entre a rede pública e a particular. Essa realidade
é encontrada principalmente no Rio Grande do Sul, Estado
que mais se destacou no
ranking elaborado pela Folha comparando todas as 124 cidades
brasileiras com mais de 200 mil habitantes.
Das dez melhores cidades no Enem, seis são gaúchas:
São Leopoldo (a melhor), Caxias do Sul, Santa Maria,
Porto Alegre, Novo Hamburgo e Canoas. Em comum entre elas
está o fato de a média dos estudantes da rede
privada não ser tão distante da encontrada na
rede pública.
Em todas as cidades, a rede privada tem sempre melhores médias.
O município menos desigual nesse critério também
é gaúcho (Alvorada), mas não aparece
entre os melhores. Depois, porém, vêm Novo Hamburgo,
Caxias do Sul, São Leopoldo, Pelotas e Canoas, todas
no Estado -e bem avaliadas.
Nessas cidades, a distância entre o setor público
e o privado é sempre inferior a 10 pontos na prova
(numa escala que vai de zero a 100). No Brasil, a média
dos alunos na prova objetiva e na redação foi
15 pontos maior na rede privada. Completam a lista das dez
melhores cidades no Enem Vitória (ES), Petrópolis
(RJ), Blumenau (SC) e São Carlos (SP).
No caso das três primeiras, a distância entre
a rede pública e a particular também é
inferior à média do Brasil.
A única a destoar do grupo por apresentar desigualdade
maior do que a média nacional é São Carlos
(SP), onde os alunos da rede pública ficaram 18 pontos
atrás dos da particular.
Das dez melhores cidades por desempenho de alunos da rede
pública, todas são da região sul -oito
são gaúchas, inclusive as sete primeiras. A
melhor, de novo, é São Leopoldo. Na comparação
só das redes privadas, Barueri é a mais desigual.
São Carlos e Franca também aparecem na lista.
Causas
Para a presidente da União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação na região Sul,
Magela Formiga, o bom desempenho das cidades gaúchas
é resultado de um investimento de municípios
e do Estado que fez voltar à escola pública
uma parcela da classe média.
Ela diz que em escolas em regiões centrais essa característica
é mais visível do que em bairros periféricos,
com maior parte dos alunos de baixa renda. A oficial de projetos
de educação do Unicef (Fundo das Nações
Unidas para a Infância) no Brasil, Maria de Salete Silva,
diz que a presença de alunos de classe média
em escolas públicas beneficia a todos.
"Isso tira o estigma de que a escola pública é
apenas para pobres. Ser de classe média não
é garantia de que a família se preocupe mais
com educação, mas pais com maior escolaridade
sem dúvida contribuem muito para aumentar a mobilização
em torno da escola."
Para a secretária de Educação do Rio
Grande do Sul, Mariza Abreu, a menor desigualdade no Estado
tem razões históricas. Segundo ela, os investimentos
do Estado na educação pública sempre
foram eqüitativos, e, por isso, os colégios têm
um desempenho mais homogêneo. Mas ela considera que
o desempenho deve ser relativizado. "Ser a melhor média
num universo de baixo conhecimento não é tão
bom assim."
Ela diz que há resultados preocupantes dos alunos no
ensino fundamental que devem servir de alerta: "Se não
reagirmos agora, dificilmente manteremos a boa colocação
no ensino médio".
Antônio Gois
Folha de S.Paulo
|