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Heitor Augusto
“Queremos discutir o negro na
sociedade, fazer parte da história deste país.
Faltam muitos dos nossos direitos”. Assim a presidente
da União das Escolas de Samba de São Paulo (Uesp),
Edléia dos Santos, explica o porquê de o carnaval
organizado pela entidade ter como tema, em 2008, aspectos
históricos e culturais dos negros.
A Uesp organiza todos os desfiles
dos grupos e blocos, à exceção do Grupo
Especial e de Acesso, que reúne as escolas mais conhecidas
(como Vai-Vai e Gaviões da Fiel, entre outras) e é
transmitido pela TV. Os desfiles das duas primeiras “divisões”
do samba são organizados pela Liga das Escolas de Samba,
cisão da Uesp ocorrida em 1986.
A idéia é aproveitar
a marca de 120 anos de abolição da escravidão
no Brasil e, por meio dos samba-enredos, ressaltar detalhes
da religiosidade, culinária, música, e outros
tipos de artes e traços culturais construídos
essencialmente por negros.
Tradicionalmente a Uesp elege o tema
do carnaval do ano. Porém, essa é a primeira
vez que entidade e escolas vão tratar do mesmo tema
– no caso, a abolição da escravatura.
“Já falamos dos 450 anos da cidade de São
Paulo, dos 500 anos de descobrimento”, lembra Edléia.
“Este ano, falamos com os presidentes e eles gostaram
da idéia. Vamos trazer à baila a cultura negra”,
complementa.
64 escolas pela cidade
Além do Sambódromo, onde as escolas do Grupo
I da Uesp desfilam, as quatro regiões da cidade recebem
apresentações: Vila Esperança (zona leste),
Vila Maria (zona norte), Butatã (zona oeste) e Autódromo
de Interlagos (zona sul). Ao todo, são 64 escolas,
incluindo os tradicionais blocos carnavalescos.
Mais eventos para 2008
Os projetos da Uesp para comemorar os 120 anos de abolição
são ambiciosos: programa de TV, gravação
de CD, Semana da Mulher Negra, além do Troféu
Novos Abolicionistas. “O Zumbi, que é homenageado
em 22 de novembro, dia da Consciência Negra, é
um de nossos heróis. Mas precisamos criar novos Zumbis”,
afirma Edléia.
Entre os projetos e a execução,
há um caminho a ser percorrido. E esse caminho depende
principalmente do Ministério da Cultura. A União
das Escolas de Samba aguarda a liberação de
verba no MinC para captar junto à iniciativa privada.
História do samba
paulistano
Outro projeto, que já está aberto ao público,
é o Centro de Memória e Documentação
do Samba Paulista, que reúne cerca de 70 mil títulos,
entre fotos, reportagens, filmes, LPs e CDs. “Também
precisamos de verba para digitalizar o acervo”, reivindica
a presidente da Uesp.
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