Na Câmara
Municipal, crianças de até 10 anos e suas mães
lotavam as cadeiras da galeria do plenário durante
à tarde de ontem. Elas deveriam estar na escola ou
na creche, mas não há vagas para todas na rede
pública. Mesmo sem entender o que estava acontecendo,
ajudavam suas mães a participar da manifestação
"chamada dos sem-vaga", promovida pelo vereador
Carlos Giannazi (PT). Somente no plenário, foram cadastradas
120 crianças que estão fora da escola.
Segundo o vereador, há pelo menos 300 mil crianças
entre 0 e 6 anos fora das salas de aula na capital. "Esse
número deve ser muito maior, porque ele não
mostra a demanda passiva, da mãe que desiste e não
deixa o nome do filho na lista de espera". Giannazi diz
que a situação é pior nas zonas sul e
leste. "Faltam vagas na Capela do Socorro, Parelheiros,
Interlagos, Grajaú, Cidade Dutra, Brasilândia
e na zona leste é um desastre total". Segundo
ele, há filas de espera de 1.200 crianças na
creche Parque Santo Antônio e de 670 crianças
no Ipiranga.
Giannazi pretende publicar no Diário Oficial de hoje
os nomes de quase 5 mil crianças que estão sem
vagas e foram cadastradas por sua equipe e enviará
a lista para o Ministério Público e secretarias
estadual e municipal de Educação.
É a única lista de presença em que os
nomes de Aline Valentim de Souza, de 10 anos, e o irmão
José Henrique, de 6, vão estar. Há mais
de um mês, a mãe das crianças, Luciana
Valentim, de 42 anos, tenta matricular os filhos em escolas
da Cidade Dutra. Recém-chegados de Itanhaém,
ela já bateu em quatro escolas em busca da transferência
dos filhos.
"Deixei o nome da Aline na lista de espera e sabe qual
número ela era? 258." A menina, boa aluna, que
nunca ficou de recuperação, chegou a chorar
por ficar fora da escola. "Estou triste porque não
tem vaga e fico com medo de não estudar neste ano",
lamentou Aline.
A empregada doméstica Alessandra Nogueira, de 27 anos,
também tenta transferir a filha Thalita Vieira, de
10, há três anos. A menina estuda no Recanto
Campo Belo, a 8 quilômetros de casa, na Cidade Dutra.
"Estou chegando atrasada ao serviço para levá-la
para a escola".
O mesmo problema sofre a copeira Jerusa Nunes, de 28 anos,
que inscreveu o filho Guilherme na lista de espera de uma
creche no Jardim Damasceno quando ele tinha 15 dias de vida,
há nove meses.
A Secretaria Municipal de Educação informou
que o ensino infantil é prioridade do novo governo.
Há um plano de obras, mas antes de se pensar em começá-las,
a secretaria dará prioridade à regularização
de pagamentos atrasados de fornecedores e contratos vencidos,
deixados pelo governo anterior.
As informações são
do jornal O Estado de S. Paulo.
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