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Heitor Augusto
Em cinco anos, os moradores do
bairro da Liberdade vão voltar a viver no século
XVII. Não, eles não vão entrar em uma
máquina do tempo como a projetada pelo doutor Emmet
Brown em “De Volta Para o Futuro”. Até
2011, as fachadas dos comércios e pontos do bairro
(posto policial, cabines telefônicas, bancas de jornal,
viadutos) vão ganhar desenhos inspirados na arquitetura
oriental de 1600.
“Tentamos desenhar para o bairro
uma memória para as pessoas”, avalia Márcio
Lupion, líder da Kallipolis Arquitetura, equipe de
arquitetos que projetou a nova cara do bairro. Serão
remodeladas as ruas Tomás Gonzaga (conhecida pelos
restaurantes orientais), Galvão Bueno (com a loja de
cosméticos Ikesaki), São Joaquim (EE Presidente
Roosevelt), Glória (Hospital Bandeirantes e 1°
DP), Estudantes (lojas japonesas), Conselheiro Furtado (viaduto
Shuhei Uetsuka), além do Largo da Pólvora (bonsais).
(veja mapa aéreo).
Os novos desenhos estão recheados
de simbolismos. A começar pela praça
da Liberdade, onde acontece semanalmente a feira típica.
No piso, serão desenhados diversos círculos
com bordas vermelhas, à semelhança de uma gota
que pinga em um recipiente com água e reverbera, formando
ondas. O desenho é inspirado na lenda de criação
do Japão: os deuses Izanagi e Izanami foram enviados
pelo Senhor do Céu para acalmar o caos da Terra. Fincaram
sua lança no mar e, das gotas de sal que saíam,
eram criadas ilhas (o país é formado por quatro
grandes ilhas, além de outras três mil pequenas
que formam um arquipélago).
As ruas redesenhadas (veja fotos abaixo)
serão apelidadas de “Caminho do Imperador”,
inspiradas na lenda de que por onde o imperador passa, tudo
floresce. A tradição chinesa no bairro também
foi respeitada. O maior símbolo é o viaduto
Shuhei Uetsuka, que vai ganhar traços característicos.
Os restaurantes típicos também terão
receberão fachadas especiais. O mini-shopping SoGo,
na avenida Liberdade, terá um imenso dragão
cinza desenhado nas janelas.
A praça em frente ao 1° DP, na rua da Glória,
que hoje tem alguns pequenos jardins, vai ganhar a estátua
de um Buda de seis metros. “Estamos pesquisando
algo que possa representar a crença de todo o oriente”,
explica Lupion, que foi monge por 16 anos.
Multiplicar a iniciativa
Separado da Liberdade pela rua Conselheiro Furtado, o bairro
do Glicério é um dos mais degradados da cidade
e concentra boa parte da população pobre da
região. Nas ruas, é comum encontrar móveis
velhos, entulho, calçadas esburacadas, casas com arquitetura
do início do século XX destruídas. A
região também é marcada por depósitos
de materiais recicláveis.
Lupion acredita que a iniciativa pode
ser multiplicada. “O morador de rua também tem
de pertencer ao bairro. Não dá para jogar fora
o ser humano”. O arquiteto acrescenta que os Campos
Elísios, centro, também possui potencial de
revitalização.
Orçamento
Os custos dos cinco anos de obra estão estimados entre
R$ 45 e R$ 50 milhões de reais. “Pretendemos
dividir a cota de patrocínio entre dez empresas, que
terão seus nomes estampados em lugares onde colaboraram
com a restauração”, explica Sebastião
Roque, consultor na captação de recursos para
a nova Liberdade. Segundo ele, quatro empresas praticamente
confirmaram o patrocínio.
veja mais:
Veja
o antes e o depois das ruas
Fotos
das novas bancas de jornal, pontos de ônibus e postes
de ruas
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